Certa vez, funcionários do Centro de Processamento de Dados do Banco do Brasil (Cesec) em uma cidade aí pelos sertões, sensibilizados pelas carências de pessoas, decidiram tirar 1% de seus salários para oferecer-lhes um sopão sabatino. Os olhos dos doadores brilhavam de contentamento, os dos beneficiários nem tanto, naqueles encontros. Sobrevivo a decadência do Cesec, a transferência ou demissão dos idealizadores do projeto, e finalmente a eliminação sumária do sopão.
Os beneficiários da festa semanal se revoltaram, passaram a agredir os funcionários do Cesec, depredaram a porta de vidro da agência central do banco. Quem conta o caso é Dário Teixeira Cotrim, escritor, do Instituto Histórico, que faz reflexões.
E se, em determinado dia, o governo tiver de interromper o Bolsa Família? O paliativo alimentar passou a ser um compromisso permanente da União, mantido às expensas da contribuição popular. Confiante na ajuda regular, os segmentos atendidos pelo programa não se sentiram motivados a buscar outros meios de sobrevivência. A generosidade pode ter resultados perversos.
Ninguém perdoa quando se sente espoliado de algum bem que se lhe é propiciado, ainda que seja a título de doação. A prenda passa a integrar o rol dos benefícios recebidos, mesmo sabendo que não há compromisso de perenidade. O que acontecerá quando o Bolsa Família for cortado dessas famílias?
A ideia original pode ser boa, ajudou pessoas em determinados momentos, mas a doação não veio para ficar. O fundamental seria propiciar oportunidades de trabalho a essa gente humilde, que passou até a lucrar com a ociosidade. Conheço regiões em que não há mão de obra disponível para determinadas atividades. Tampouco há interesse em trabalhar, porque se tem garantido o quinhão da Bolsa Família.
Certamente deveria existir acompanhamento das pessoas, para apurar o que lhes acontece enquanto recebem o benefício e como podem ser encaminhadas ao trabalho, evitando a ociosidade, que é má conselheira.
Entanto, qual autoridade irá arrostar o perigo da antipatia popular a esta altura? Em verdade, porém, não se pode pretender ou permitir que se formem bolsões de ociosidade com o dinheiro do contribuinte. O assunto obviamente precisa ser repensado, porque é de interesse da sociedade.
