*Manoel Hygino
Há muito de errado no Brasil, embora erros existam também em outros países. Há gente reclamando de inumeráveis problemas e do não atendimento de reivindicações e demandas, que não são poucas. A questão habitacional permanece em posição de destaque. Mas é algo que não entra no cerne. Na realidade, há desigualdade, a injustiça social prepondera.
Eu me lembro de que, em abril deste ano, uma fonte do Programa para as Nações Unidas para o Desenvolvimento informou que a América Latina se mantém como a região do mundo com maior desigualdade de renda, e o Brasil está inserido nela: é o quarto lugar, apesar das apregoadas melhorias.
Segundo dados do programa, Honduras, Bolívia, Colômbia, Brasil e Chile são os países mais desiguais nesse âmbito. Com menos desigualdade estão Nicarágua, Argentina, Venezuela, Uruguai, Jamaica e Peru.
O relatório afirma que a desigualdade na América Latina se deve ao fato de ser a região com mais milionários do que em outras áreas do mundo.
Aliás, foi no quarto mês também que li ter chegado a R$ 1,1 trilhão, quase 25% do PIB, a dívida das famílias brasileiras ao sistema financeiro. Apenas nos empréstimos que não têm subsídios do governo, o calote chegava a 7,6% do total, o equivalente a R$ 53,2 bilhões.
O avanço do endividamento do brasileiro nos últimos cinco anos chama a atenção, mas não constitui surpresa. Desde setembro de 2008, quando do estopim da crise financeira internacional, o governo decidiu dar início a uma série de estímulos ao consumo, e a dívida das famílias duplicou. Mais do que isso: cresceu 115,3% no período. E os juros no Brasil continuam entre os mais altos do mundo.
Os sonhos acabaram, a realidade é outra, e o pior cego é o que não quer ver. Tentamos enganar-nos. Para voltar ao passado, recordaria que, em outubro de 2012, a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios 2011, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelava que a pobreza extrema atingira 8 milhões de pessoas no Brasil.
Ou seja: a redução fora de apenas 5,6% frente a 2009, quando o Brasil tinha 8,5 milhões de miseráveis; em 2010, eram 16,2 milhões nessa situação, isto é, 8,5% da população.
Especialistas admitem que a possibilidade de erradicação da miséria até 2014, meta da presidente, é remota. Eu diria mais: impossível. Dois mil e quatorze começa daqui a um mês praticamente. Miserável para nós é quem vive em família com renda de até R$ 70 por pessoa.