Ruth Tupinambá Graça
Lendo os jornais deparei-me com esta notícia muito agradável: Representantes do poder público, “ONGS” e iniciativa privada debateram a abertura do Parque Estadual da Lapa Grande à visitação pública. Durante a reunião o “IEF” apresentou a minuta da portaria que irá regulamentar a abertura da unidade de conservação aos visitantes e também o seu “Plano de Manejo”.
Eu acho um absurdo esta demora para a abertura da visitação, privando os montesclarenses e turistas visitas à Lapa Grande, e fico torcendo para que termine logo esta burocracia, própria dos nossos governantes.
Eu me lembro que antigamente ela era aberta ao povo para visitas. Os montesclarenses sabiam aproveitá-la.
Aos domingos e feriados organizavam passeios que eram as melhores distrações para as famílias daquela época. Tanto que viraram moda as excursões à Lapa Grande, principalmente para a juventude.
Aí é que chegou a vez do meu filho Armeninho, já com 14 anos, seguindo as experiências e instruções do Alberto Graça, irmão mais velho, que com grande entusiasmo não perdia a oportunidade de visitar a famosa Gruta. Às vezes, ele encontrava, no interior, ossos e esqueletos de animais, pedras diferentes e outros objetos, que ele guardava como relíquias.
O Armeninho seguiu os passos do irmão e com grande curiosidade a ida à Lapa Grande era o passeio predileto todos os Domingos. Nenhuma distração na cidade o interessava mais do que essa excursão com os companheiros, da qual ele era sempre o chefe. Aos Sábados, depois das aulas, passava o dia preparando os objetos indispensáveis: lanternas de carbureto, (testando o funcionamento) cordas, barbantes, fósforos, cantil, marmita, martelo, canivete, facão, mochila. A caixinha de “pronto socorro” com os remédios de emergência, principalmente o bicarbonato para as extravagâncias, enfim, tudo necessário para o sucesso daquela excursão.
Tudo combinado, Domingo, às 4 horas da manhã, chegavam os companheiros um a um: Luciano Vasconcelos, Eduardo Guimarães, Olavo Mendonça, Stanley Guimarães, Wildes Tupinambá, Waltim Fialho, Domingos e outros.
Chegavam afobados, mochilas às costas e saiam contentes para a grande “aventura” depois de saborear um café com leite, pão com manteiga, biscoitos e bolos (que eu preparara com antecedência). Eu ficava na porta olhando aquela turma de rapazolas descendo a Rua Dr. Veloso (onde eu morava), escutando o “troc-troc” das botinas no calçamento grosseiro (à pé de moleque) daquela época, até sumirem, virando a esquina (em frente o casarão da “Fafil”), pegando a estrada que os levaria à Lapa Grande.
Numa destas aventuras, já de volta, quase chegando em Montes Claros, Armeninho sentiu falta do martelo especial (próprio para escavações) que o Vicente Guimarães (o grande explorador de grutas, companheiro do Dr.Simeão Pires) o havia emprestado. Armeninho ficou quase louco, o jeito era voltar e procurá-lo.
Os companheiros disseram:
-“Não volte, está tarde, já escurecendo, você não vai conseguir encontrar o martelo”.
O próprio Stanley, filho do Vicente, afirmou-lhe:
-“Papai não vai se importar com a perda deste martelo, ele tem outro, você não deve correr este risco sozinho, é imprudência!”.
Mas o Armeninho não se conformou. Não ouviu os companheiros, seguiu apenas a sua cabeça, consciente de que voltar a Lapa Grande era o que deveria fazer.
As horas passavam e nada do Armeninho aparecer. Os companheiros estavam aflitos.
Já quase 19 horas, ele surgiu muito cansado, mas muito alegre sacudindo o martelo. Os companheiros ficaram admirados (teve muita sorte, graças às minhas orações!), pois eu passava o Domingo inteiro de terço na mão, até sua volta, preocupada com os perigos que realmente existem nestas grutas.
No dia seguinte, pela manhã, o Vicente Guimarães apareceu lá em casa e, abraçando o Armeninho, disse-lhe:
-“Parabéns! O martelo agora é seu, um presente meu pelo seu esforço e também será o retrato da sua grande responsabilidade!”.
Armeninho ficou assustado. Mas a alegria foi muito maior recebendo aquele precioso martelo, que muito o ajudaria nas “celebres excursões”...