Por Laura Conrado
Certa vez, ouvi que quando temos intimidade com alguém damos a essa pessoa as armas certas para nossa destruição. Aqueles com quem partilhamos sonhos, choramos mágoas, revelamos segredos e contabilizamos perdas, são nossos detonadores em potencial. “Nós nunca somos tão vulneráveis como quando amamos”, disse Freud. Deve ser por isso que nos esforçamos tanto para sustentar as personagens que criamos, protegendo, assim, nossa identidade real – e quase secreta.
No medo de dizermos quem somos, transmitimos imagens do que não somos. Começamos amizades e namoros baseados em ilusões. Editamos a nós mesmos como as fotos que postamos, com maquiagem e filtro, no Instagram. “Ao fim de tudo, você permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não a mim,” diz o dramaturgo Fauzi Arap.
Conheci esse texto declamado na voz da Maria Bethania, ao abrir a canção Estúpido Jeito de Amar. Antes que eu me torne mais vulnerável neste post (!), faço minhas as palavras de Arap, com o trecho final de seu poema.
“Entre ‘eu’ e você existe a notícia que nos separa
Eu quero que você me veja nu.
Eu me dispo da notícia.
E a minha nudez parada te denuncia e te espelha.
Eu me delato.
Tu me relatas.
Eu nos acuso e confesso por nós.
Assim me livro das palavras
Com as quais você me veste.”
