Nomes e nomes, ou inferno e glória dos nomes, ou, ainda, os nomes e sua influência

Jornal O Norte
Publicado em 10/09/2009 às 09:56.Atualizado em 15/11/2021 às 07:10.

Felippe Prates



Nomes divertidos e pitorescos vão surgindo com a divulgação dos recenseamentos,  vítimas de instantes de péssima inspiração paterna, que são um convite à pilhéria, como acontece, também, na nossa Montes Claros. Saudosos tempos, em que os nomes de santos eram os escolhidos para batizar nossas crianças...



Há por aí um cidadão que se chama Elixir, outro que é o respeitável senhor Purê, além do senhor Creme e o senhor Cedilha.  Uma senhora é a dona Máquina. Tem o doutor Sedilcue (Euclides, de trás para diante)! Quando os pais resolvem inventar um nome para batizar seus filhos, que resulta da combinação do nome do pai e da mãe, a desgraceira costuma ser completa: Albenita (de Alberto e Anita), Rosamundo (de Rosa e Raimundo), Lidialbert (de Lídia e Alberto), e por aí vai. Na verdade, em matéria de nome esdrúxulo, o campeão ainda é o famoso Prodamor de Josemar, que, pasmem, é nome de gente e nasceu de PROduto Do AMOR DE JOSÉ e MARia... Pode?



Todos esses nomes e muitos outros do mesmo gênero, foram levados por pais de miolo mole ao Registro Civil, sendo aceitos e devidamente sacramentados de acordo com a lei.  Atenção, prima Lola Chaves: fiscalização mais severa no registro de nomes próprios é o que todos reclamam, à fim de que crianças desprotegidas não sejam condenadas a arrastar nomes ridículos e estapafúrdios pela vida afora.



Há quem acredite que nas pessoas, como nas cidades, os nomes têm influência.



Às vezes, porém, algumas mudanças, para pior, sacrificam nomes alegres e sinceros.



Como a sua população era descuidada, boêmia, não levava a vida muito a sério, foi dado o nome de Pita e Bebe a um simpático arraial do sertão mineiro.  Pitar e beber era a grata ocupação de sua gente, dedicada quase apenasmente em curtir duas das melhores coisas da vida e daí o delicioso nome de Pita e Bebe.  O lugarejo progrediu e, quando virou cidade, alguns espíritos muito graves, sérios e circunspectos, mas insensíveis,  acharam que aquele nome tão bom, Pita e Bebe, comprometia a localidade, não pegava bem.  Mudou, então, para Lagoa dos Patos, o que foi uma pena. Este, um nome repetitivo e inexpressivo. 



Também em Minas, um inusitado nome de cidade, Brejo das Almas, já não há.  Por ter sido considerado de mau agouro, foi mudado para Francisco Sá, em homenagem a um grande mineiro.  O eterno Juca Prates, um livro aberto de história, nos contou, certa vez, que o nome inicial teria sido Brejo das Armas, em virtude de um esconderijo-depósito existente na região, por ocasião da Guerra do Paraguai.  Infelizmente, Juca Prates, com quem conversávamos horas sem conta, no alpendre de sua casa, aprendendo a história da família Prates e por via de conseqüência a história de Montes Claros, faleceu antes de nos explicar, com pormenores, como era do seu estilo, os fundamentos e as razões de tal assertiva.  Ficou uma dúvida no ar e porque não esclarecê-la?  Afinal, convenhamos,



o nome Brejo das Armas a todos parece muito mais adequado do que o pouco bucólico, lúgubre e bastante estranho Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, uma cidade tão simpática, cujos moradores lamentam, com razão, o nome antigo de sua terra, motivo de constantes brincadeiras de mau gosto.



- O que é este mundo se não um Brejo da Almas?  –  suspiram soturnos pensadores em liquidação, ainda inconformados com essa mudança.



Juca Prates, ou José Rodrigues Prates, irmão do nosso avô, Antônio Prates Sobrinho, o Major Prates, era o terceiro deste nome, antecedido por seu pai, Papai Juquinha e pelo seu avô, o Coronel Prates, todos com o mesmo nome, José Rodrigues Prates, em três gerações diferentes. Ao nascermos, em nome da tradição Papai cogitou de nos dar o nome de José Rodrigues Prates, já na quinta geração, com o apelido de Juca Prates.  Mas, nossa avó paterna, Jaínha  –  Januária Olegária Lafetá Prates  –  lembrou a Papai uma estranha coincidência: todos os meninos batizados com o nome de José Rodrigues Prates, após Juca Prates, tinham falecido na primeira infância. Naturalmente, nossos pais preferiram não correr o risco e só por isso deixamos de ser o Juca Prates de hoje, o que lamentamos sincera e profundamente. Valia o risco, e muito nos honraria, por todos os motivos, termos este nome e, ao homenagear nossos ancestrais, desde o abolicionista Coronel Prates e aos seus homônimos das gerações seguintes, se faria merecida justiça. Homens honrados, corretos, destemidos e naturalmente sobranceiros, que desde sempre ao honrá-la se empenharam na tessitura da notável saga da família Prates, em cujos ombros ergueu-se a cidade de Montes Claros.



Há mudanças que ensejam tempos novos, progressistas, mais prósperos.  Tremedal, em Minas, não ia pra frente, pois o nome não ajudava.  Mudou para Monte Azul e tudo melhorou muito.



Contava Papai, o jornalista Newton Prates, que há mais de cem anos, quando as pessoas ainda se deliciavam com a leitura dos livros do grande romancista português Eça de Queirós, numa revisão administrativa em Minas, acalorados debates foram travados no antigo Senadinho estadual, por causa de projetada mudança de nomes de cidades.  O senador Basílio Magalhães, um puritano, defendia da tribuna a troca de nomes de algumas cidades mineiras que lhe pareciam incômodos, rebarbativos, de sentido equivocado. Num aparte, foi interrompido pelo senador Padre João Pio, famoso pelo mau fígado, malcriadíssimo, que lhe disse aos gritos irritado com os excessos moralistas do colega:



- Se Vossa Excelência quer que sejam mudados nomes de cidades por achá-los inconvenientes, porque não muda primeiro o seu próprio nome, senador Basílio Magalhães, xará de um tipo de péssimo caráter, um debochado, um adúltero, o primo Basílio, cavernoso personagem de um livro de Eça de Queirós?!



.....


Lamentamos, consternados, o falecimento de Nivaldo Maciel, o trovador, nosso amigo há mais de cinqüenta anos.  À cidade de Montes Claros, sinceros pêsames.


.....


Falem-nos: felippeprates@ig.com.br

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por