No confessionário político

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 29/08/2014 às 01:17.Atualizado em 15/11/2021 às 16:35.

*Manoel Hygino

No último domingo, completaram-se os 60 anos da morte de Getúlio Vargas, episódio que poderia ter levado o Brasil a uma guerra civil, como muitos criam. Em agosto de 1954, dividira-se a nação entre os que queriam o fim da era Getúlio, cujos primeiros 15 anos se deram, com o governo que sucedeu a Washington Luís, em outubro de 1930; e os que esperavam a permanência do mito. Os que se posicionavam ao lado de Lacerda e dos ideais de mudanças, enfatizados com o fim da II Grande Guerra, não admitiam chegar-se a um novo tempo com os mesmos dirigentes.

É sempre hora de se pensar e repensar o Brasil, principalmente porque neste ano se realiza uma nova eleição presidencial. Os brasileiros sentem suas carências, porque as sofrem e condenam erros e vícios, porque os conhecem de perto. E a imprensa não cala e é, por isto mesmo, tripudiada. A verdade dói.

Para um admirador de Vargas, do interior mineiro, Getúlio foi um grande presidente. Tirou o país da condição de produtor agrícola e o lançou na era industrial. Procurou amparar o ainda frágil trabalhador, vítima de sucessivos governos. Em resumo: um presidente, que amou seu país e seu povo.

Referindo-se a 2010, um meu missivista me lembrou Guzzo. Em 2010, 50% da população brasileira ainda não era servida por água e esgoto, só 25% da população alfabetizada e com condições de compreender um texto de jornal. Daí, Guzzo comentar em artigo: “Basta pensar durante cinco minutos sobre certas realidades para constatar o disparate de se considerar o Brasil um país bem sucedido”.

Recorda Rui e Euclides da Cunha. O autor de “Os Sertões” deixou a crítica mais ácida sobre o regime que sucedeu à monarquia: “Uma República hilariante, uma bandalheira sistematizada, em atmosfera própria de batráquios”.

Tão grave o quadro, que – no Beco do Café, em São Paulo – um ex-oficial da Aeronáutica doutrinava: “A República que aí está é um queijo cercado de ratos por todos os lados; a democracia que se apregoa é um regime que pela (veja-se o significado), o povo, isto é, lhe tira até a pele.

Povo sem habitação e sem terra (vejam as manifestações recentes por um pedaço de chão e um teto), sem instrução, entregue à ociosidade ou à remuneração baixa. Certos segmentos se enriquecem e desfilam com carrões importados de último modelo, enquanto se imperam a droga e a corrupção.

Sérgio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil”, observa: “A substituição de homens em nosso país é mero processo aleatório. Voto, realmente, não enche barriga; daí por ignorância, a rataria”.

Neste ano de eleições, 60º aniversário do suicídio de Getúlio, há de lembrar-se um episódio bimilenar: “Eloi, Eloi, lama sabactani?”. Foram palavras de Jesus na cruz: “Deus, Deus, por que me abandonaste?”, como está em Mateus e Marcos.

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