Natureza e apocalipse - por Neumar Rodrigues

Jornal O Norte
Publicado em 12/07/2007 às 20:02.Atualizado em 15/11/2021 às 08:09.

Neumar Rodrigues *



Existem algumas religiões que há muito tempo pregam a chegada do apocalipse. O que até pouco tempo atrás era apenas fruto de crença religiosa, agora, tem o respaldo científico. A ciência, em conseqüência de estudos sérios de algumas centenas de cientistas, faz previsões catastróficas, antes inimagináveis, para esse século ainda. A segunda parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) mostra um cenário assustador para uma grande parte dos habitantes da terra. Pelo menos um bilhão de pessoas no mundo sofrerão falta de água potável nas próximas décadas. As populações mais pobres serão as mais afetadas. O aquecimento global afetará a produção de alimentos dos países mais pobres como os da África e América do Sul, enquanto os EUA, país que mais contribui para o aquecimento global, terão sua agricultura beneficiada, uma vez que temperaturas muito baixas serão amenizadas, facilitando o cultivo da terra. Rússia e Nova Zelândia, também serão beneficiados.



Uma das principais conseqüências do aquecimento será o  derretimento do gelo das grandes montanhas como Himalaia e Andes, retirando a função de fornecer água constante pelo derretimento lento durante o ano todo. Há uma grande chance de três quartos do gelo existente nos Alpes terem desaparecido até o fim do século atual. Essa grande quantidade de gelo tornado água, principalmente dos pólos, aumentará o nível dos mares, inundando regiões costeiras.



Para se ter uma idéia, a maioria dos bairros da zona sul do Rio de Janeiro simplesmente poderá desaparecer em algumas décadas se o processo de aquecimento mantiver o atual ritmo. Mas não seriam apenas os homens a padecer as conseqüências do aquecimento.



Segundo o relatório, um terço das espécies de animais e plantas poderá desaparecer. Todo o desenvolvimento e tecnologia existentes não serão suficientes para enfrentar todos esses problemas em escala mundial. Alguns países ainda não acordaram para a gravidade do problema. Ainda que furacões como o Katrina tenham atingido proporções assustadoras, destruindo tudo o que encontraram pela frente, matando centenas de pessoas, o governo dos EUA continua a liderar a emissão e liberação na atmosfera de gases responsáveis pelo aquecimento como se os problemas já vivenciados pelos povos fossem peça de ficção.



Muitos dos problemas levantados pelos cientistas no relatório já estão acontecendo em algumas partes do globo terrestre, não sendo mais possível se ignorar o problema. Segundo os cientistas envolvidos, uma grande parte dos problemas apontados como de ocorrência certa até o final do presente século pode não acontecer se medidas preventivas urgentes forem tomadas. O problema é que uma visão míope estabelecida pelo sistema socioeconômico vigente no Ocidente somente permite que os governos de muitos países vejam seus próprios umbigos, buscando tirar todo o proveito da terra de forma frenética e desordenada, como se não fosse existir mais vida humana nas próximas décadas.



A gravidade do problema exige que nos engajemos nessa causa, dando nossa contribuição no processo de respeito à  natureza, sem esperar apenas dos governos alguma atitude. A pressão popular e o conviver harmônico dos povos com a natureza exigirão mudanças de atitudes dos governos, impedindo que ações predatórias continuem a existir. Não podemos nos esquecer que a terra é nossa casa e não é mais possível tratá-la tão mal, sob pena de nossos filhos e netos sobreviverem em um ambiente hostil,  precisando recorrer a filmes de ficção para ver paisagem de aves voando e pôr do sol como ainda temos em muitos lugares do planeta.



* Jornalista

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