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Sábado,10 de Maio

Na minha moto não, candidato! - por Márcio Adriano Moraes

Jornal O Norte
Publicado em 07/08/2008 às 11:00.Atualizado em 15/11/2021 às 07:40.

Márcio Adriano Moraes


Professor do Colégio Indyu e do projeto de Educação Popular


 


Estava tranqüilamente tomando o meu sagrado caldão no Rei do Caldo de Mocotó, aguardando a coca-cola que pedi ao meu amigo Juvenal que tardou a levar. Enquanto isso, dialogava com meu irmão pelo telefone; falávamos de política. Por coincidência ou não, passou pela porta do bar a passeata em prol de um candidato a vereador.



Aí, só foram ouvidos apitos, aclamações ao Fulano: “educação e esporte” e outras prosopopéias... A coca chegou para confrontar com o delicioso caldo bem quente. De repente, a invasão ao boteco; garotos e garotas com um jornalzinho na mão e adesivos no peito: “neste, pode confiar”. Gentilmente, peguei o jornalzinho, interrompendo bruscamente a minha degustação e dei uma rápida olhada. Sou maníaco por leitura, leio tudo que cai nas mãos, não importa a ocasião. Certa vez, Deus me perdoe, eu estava em uma missa e, como o sermão do padre foi substituído por uma encenação, resolvi me ausentar para comprar uma revista em uma banca próxima. Só voltei após o término da encenação. Fui à missa para ouvir sermão, se eu quisesse ver uma peça, eu iria ao teatro; mas tudo bem.



Nada a ver essa divagação, voltemos ao comício montes streets. Então, li as propostas do candidato. Todas as propostas de todos os candidatos são boas. Para ser sincero, até hoje nunca li nenhuma ruim; algumas utópicas, verdade. Há alguns anos, um candidato a prefeito queria colocar bebedor de coca-cola na praça Dr. Carlos. A idéia foi muito boa, mas, no mínimo, difícil de ser concretizada, para insatisfação dos amantes coca-colinos. Li o jornalzinho, terminei de tomar o caldão e fui cumprir com minhas obrigações sabatinas; passar na Taís para comprar revistas, dar uma volta na praça e ir comer a feijoada.



Montei na minha motoneta e segui o meu destino. Quando cheguei a minha casa, o susto foi grotesco. Bem na lanterna traseira de minha motinha um adesivo do Candidato Fulano. Logo abaixo, no pára-lama, eu já havia pregado o adesivo do meu professor e candidato. Mas que ousadia do Fulano! Certamente não foi ele quem pregou o adesivo, mas seus fiéis súditos. Entregar um jornalzinho para eu ler, tudo bem; agora contaminar meus bens, aí não! Nada contra o tal candidato, mas totalmente contra essa pregação de adesivos em bens alheios. Não autorizei ninguém a pregar nada em minha moto. Na minha moto, não, candidato!



O trabalho que deu para eu tirar o santinho me deixou estressado. Tive que passar álcool para tirar a marquinha do adesivo. Olha, candidato, assim não terá o meu voto! Hoje foi o Fulano, amanhã pode ser o Cicrano, depois o Beltrano. Poluição de meu veículo! Não, isso não! Essa não é uma boa forma de conseguir adeptos. Faça a sua campanha, mas respeito os bens alheios, respeite os bens públicos. Também sou contra os adesivinhos nos bancos de praças, nos telefones públicos. Passeatas, apitos, bicicletas de som (bem baixinho e longe da minha casa) tudo bem. É preciso mostrar aos eleitores quem é o candidato, suas propostas, sua história política e social. Mas, por favor, candidato, não risque meu carro, não cole nada em minha moto sem minha autorização. Oriente seus colaboradores de campanha a respeitar o espaço e o bem do outro. Se agora, nas campanhas você, candidato, já invade a “privacidade” dos eleitores, o que será da “priva” “cidade” caso seja eleito! Discrição, por favor; peça, mas não invada!

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