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Sábado,28 de Junho

Não se faz filantropia apenas em asilos

Jornal O Norte
Publicado em 25/05/2009 às 09:17.Atualizado em 15/11/2021 às 06:59.

Everaldo Ramos


Professor



Antes mesmo de ingressar no universo jurídico, já me impressionava com aqueles que legalmente são alçados à condição de Juiz para, como reza a nossa Carta Magna, buscarem a Justiça e o Direito, mas que agem e tratam as pessoas e determinados temas com uma soberba tal, como se fossem eles os donos da verdade.



Julgam-se inquestionáveis, detentores da verdade absoluta. É bem verdade que não são todos, mas a maioria. São impetuosos, arrogantes e, às vezes, até deselegantes no trato com aqueles que militam e buscam a Justiça no Poder Judiciário.



Utilizo-me desta introdução pra ilustrar comentário deplorável ouvido numa sala de audiências da Justiça do Trabalho na última segunda feira. Como se não bastasse à notória falta de conhecimento do Magistrado sobre o processo em pauta, o mesmo ainda ousou tecer comentários equivocados e tendenciosos afirmando que trabalho voluntário, ou seja, filantrópico deve se feito em asilos apenas.



Ora, talvez não saiba o referido Magistrado que a Sociedade Educativa do Brasil, a Soebras, mantém vários projetos de responsabilidade social, difundindo uma cultura tão presente nos idos contemporâneos, a de responsabilidade social.



Dentre eles posso citar, melhor, explicar ao Magistrado, já que o mesmo, pelo que parece, não esteja inteirado, que o Projeto de Educação Popular atende a quase 1.500 (mil e quinhentos) jovens na periferia da nossa cidade, com ensino gratuito de Pré-Vestibular e Pré-Concursos, em parceria com igrejas e associações, permitindo a muitos a oportunidade de mudarem a vida dos seus, da sua comunidade e a sua própria vida. O projeto oferece também a muitos acadêmicos, alguns já beneficiados com programas do Governo Federal, como o Prouni, a oportunidade de além de alçarem o aprendizado da prática do exercício do magistério, de se tornarem úteis à sociedade, retribuindo o que o Estado já lhes provém, vivenciando a cidadania e podendo experimentar a grata sensação do prazer da solidariedade.



Isso, senhor Magistrado, é o Projeto de Educação Popular, mantido pela Soebras, um espaço de múltiplas possibilidades de ações sociais e solidárias. Talvez o senhor, acostumado com a viseira peculiar a juizes, que atuam na Justiça do Trabalho, levados, quase sempre, a condenar previamente os empregadores, não lhes permitindo uma defesa contundente, como ocorreu naquela fatídica tarde de segunda-feira, não conheça bem o que fazemos.



Não se podem ignorar os feitos daqueles que fazem a História, senhor Magistrado – e é isso que nós da Soebras estamos fazendo, com determinação, olhar vanguardista e principalmente com sensibilidade social. Aqui, muitos acadêmicos, como os que figuravam no pólo ativo da lide que o senhor julgava na segunda-feira, chegam sem sequer saberem como se portarem numa sala de aula, buscando ajuda, pedindo espaço para um aprendizado profícuo, que não se ensina na faculdade, e ao se colocarem como voluntários, logo são contratados. Porém, depois de influenciados por advogados, mercenários e inescrupulosos, buscam refúgio na Justiça do Trabalho, onde se mantém acintosamente, sem nenhuma dor de consciência, e encontram eco na postura de juizes que, como senhor, ainda não se desvencilharam dos costumes do século XIX. E olha que quem escreve estes rabiscos, senhor Magistrado, é um sindicalista militante, lutador incansável pela Justiça, mas, acima de tudo, alguém que mantém uma postura ética na defesa de valores como a verdade e a justiça, legados a mim deixados pelo meu velho pai, um soldado da Polícia Militar, que apesar do pouco estudo, soube como ninguém consolidar no meu imaginário a importância de tais valores.



Podemos, senhor Magistrado, até perder em primeira instância, mas que bom que o Direito nos garante o duplo grau de jurisdição, instrumento capaz de corrigir as injustiças e equívocos daqueles que pré-julgam sem manter a probidade e isenção tão peculiares ao fazer da Justiça. A filantropia, senhor Magistrado, ao contrário do que o senhor imagina e defende, devia ser uma constante em todos os espaços da sociedade civil, não apenas em asilos. Talvez o senhor assim entenda, por que não anda pelas periferias da nossa cidade, e apenas se acostumou a transitar do centro a certos bairros nobres onde certamente mora.



Ande pelas ruas, senhor Magistrado, ande pela periferia e verá que nos bairros Independência, JK, Grande Renascença, Santos Reis, São Judas e o Grande Delfino, tem a presença filantrópica da Sociedade Educativa do Brasil, materializada na maior política de inclusão social que essa cidade já viu, o Projeto de Educação Popular, que em dois anos de existência, já aprovou mais de 100 alunos em vestibulares, e mais de 40 em concursos públicos. Lá o senhor verá acadêmicos bolsistas e outros voluntários que têm colaborado para uma verdadeira revolução da educação na nossa cidade. Fazem muito mais justiça que muitos magistrados que nunca saem dos seus gabinete confortáveis, e que jamais relutam em emitir opiniões equivocadas e desprovidas de veracidade.



Saia às ruas, senhor Magistrado, e perceberá que filantropia não se faz apenas em asilos.

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