*Eduardo Costa
Sempre digo que não queria ser professor ou soldado. Professor ganha pouco, precisa conviver com pais irresponsáveis que não cumprem seu papel e exigem soluções na escola e, claro, não tem o menor respeito por parte dos governos para tão nobre missão. Soldado nunca é lembrado na hora das decisões e, se der algum palpite, é convidado a se recolher à sua insignificância, mas, quando dá errado, mandam-lhe ir lá e resolver, seja desobstruir uma via, retomar a posse de um imóvel ou pegar o bêbado incontrolável... Ah, se tudo der certo, ninguém nota o soldado, porém, se algo fugir ao controle, pau nele!
Agora, agradecido a Deus por nunca ter tido a coragem de me candidatar a cargo eletivo, anuncio oficialmente minha recusa a um das funções públicas de maior visibilidade que é a de prefeito. Como é difícil ser administrador de uma cidade! Sobretudo quando a terra é como nossa amada Belo Horizonte onde tudo é alvo de muitas polêmicas. Essa decisão da Superintendência Regional do Ministério do Trabalho de embargar a demolição do que sobrou no viaduto da Pedro I é demais para meu fígado! Podem dizer que a antiga DRT está apenas cumprindo seu papel e eu digo ok. Podem ponderar que a própria construtora Cowan anunciou, depois de um laudo preparado em São Paulo que, retiradas as estacas, a outra parte cai, o que significa risco de morte para funcionários encarregados de retirar o escoramento. Tudo bem. Não importa o que me digam, quero saber é por que essa mesma repartição do Ministério do Trabalho não fiscalizou antes e evitou a queda do viaduto. Que matou dois e poderia ter atingido dezenas de trabalhadores. Ah, mas não têm fiscais... Já ouvi isso um milhão de vezes. Para mim, o que acontece agora é aborrecimento gratuito, pois, afinal, a empresa encarregada de demolir tem histórico de capacidade, é responsável por seus técnicos e vai receber nada menos que R$ 1,2 milhão pelo serviço.
Mais importante que a burocracia da SRT – que desde os tempos de DRT tem sempre um chefe indicado pelo PDT ou outro partido que controle o ministério, dentro da distribuição indecente de cargos – é resolver logo o drama de milhões que moram ou trabalham no vetor norte e estão sofrendo com a interdição da Pedro I. Sem falar nos comerciantes, nos moradores e tanta gente cuja vida virou de cabeça para baixo nos últimos 70 dias. Eu não quero ser prefeito. Não posso. Se fosse, duraria uma semana no cargo. Aguentar repórter cobrando, vereador fisiológico extorquindo, promotor ameaçando, juiz determinando e burocrata complicando é demais... O sujeito é eleito para mandar na cidade, mas, até para tirar capivara ou jacaré da lagoa tem de pedir bênção... E, insisto: se não acabarmos com essa estória de eleição ano sim, ano não, caminharemos para cidades inviáveis, paralisadas por chatos, infelizes, aparecidos e autoridades com medo de perder voto. Cruz credo!
