Por Cláudia Gabriel
Foi no sinal de trânsito, quando o vendedor de balas me olhou de cara feia, que eu entendi o recado. Ele, o colega que brinca com o fogo e o que limpa o vidro estão, todos, insatisfeitos e têm motivos de sobra pra isso. Falta consumidor, falta plateia para o malabarismo ou falta apenas um olhar pra dizer que não são invisíveis. Eu até já comprei as balas algumas vezes e, mesmo que não leve, procuro dar um sorriso de agradecimento. Mas eles, dificilmente, retribuem. Já se acostumaram à indiferença.
O que me chamou a atenção naquele dia era que eu também estava de mau humor. Atrasada para um compromisso, agarrada no trânsito lento, cercada de motoristas agressivos e impacientes – tudo me incomodava mais do que o normal. Foi por solidariedade que compreendi. No fundo, no fundo, por mais que a gente tente ver a vida por um ângulo bom, sempre vai haver uma contrariedade.
Nós realmente não conseguimos tudo o que queremos ou da forma esperada. Tenho um bom emprego, mas adoraria ganhar uma oportunidade pra divulgar meus textos. Até onde sei, tenho saúde, mas isso é sempre algo instável pra todos nós. Tenho medo de perder pessoas queridas.
E por aí vai. Conheço homens que queriam estar com outra mulher e continuam num casamento de aparência. Mulheres que sonham com a liberdade e se sentem presas a um compromisso que só elas enxergam. Gente que queria estar em outra empresa. Empresário que se realizaria como artesão. Jornalista que poderia ser mais feliz como psicólogo. Ou nada disso. Pessoas que apenas precisam espantar o tédio. Desejam viver numa praia ou sair voando por aí, como um dos meus leitores gosta de fazer.
Se, como diz uma amiga minha, o “Mundo Caras do Facebook” mostra sempre sorrisos abertos e lugares iluminados, no real, temos que conviver com as decepções, as dúvidas, os medos, os sonhos apagados. As contrariedades da vida independem do sexo, da renda, da beleza ou do sucesso.
O pior é quando a gente decide bater o pé, acreditando que o mundo vai satisfazer nossas necessidades. Já viu aquelas pessoas que acham que todos existem para servi-las? E ai de quem disser não... É logo chamado de egoísta. Pensei nisso no dia em que não pude fazer um favor por estar muito cansada. A pessoa, que nem minha amiga é, explodiu como se eu tivesse nascido pra resolver os problemas dela.
É, gente, não adianta fazer biquinho ou pirraça, feito criança mimada. Eu até já fui assim. Só quando amadureci é que entendi: por mais chatas que sejam essas dificuldades, aprendemos o valor da renúncia, da negociação, da humildade. É certo que ficamos experientes e menos vulneráveis. Então, se o moço do sinal está insatisfeito, se a plateia não é a que você esperava, se as pessoas não aplaudem seu trabalho, fazer o quê? Respire fundo porque, como você, tem muita gente contrariada por aí. E todos lutam pra achar uma solução. Essa é a graça que torna tudo especial. É a vida...
