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Sábado,20 de Dezembro

Mulheres comprometidas com vocação

Foram duas senhoras, ladies – se tivéssemos em outro tempo e país. Idosas, vinham visitar-me no trabalho, acompanhadas por pessoa jovem, simplesmente para trocar ideias, talvez para que apenas nos víssemos

Jornal O Norte
Publicado em 17/09/2013 às 09:04.Atualizado em 15/11/2021 às 17:11.

Por Manoel Hygino


Foram duas senhoras, ladies – se tivéssemos em outro tempo e país. Idosas, vinham visitar-me no trabalho, acompanhadas por pessoa jovem, simplesmente para trocar ideias, talvez para que apenas nos víssemos. Nunca fui a suas casas, não sou dessas demonstrações, ainda quanto mais aprecie e admire as pessoas.

Celina Abreu de Aquino era uma dessas duas mulheres extraordinárias. Nasceu em 7 de setembro de 1911, ano em que se fundou a Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, em que Madame Curie recebeu um Nobel e quando o Brasil festejava mais uma vez a independência. Enfrentou preconceitos, formou-se, tornou-se a primeira ginecologista nascida na capital, foi assistente do celebrado professor Lucas Machado, lecionou na Faculdade, chefiou a respectiva clínica na Santa Casa.

Dela, disse eu em livro: dedicou-se desinteressadamente a quem dela necessitou. Não inventou sofisticados aparelhos, não criou métodos modernos e revolucionários de tratamento, desdobrava-se em benefício das pacientes, sem medir esforços. Até os 89 anos, clinicou, continuou frequentando as solenidades religiosas. No dia 6 para 7 de setembro de 2013, encerrou o itinerário, aos 102 anos de bondosa vida. Perguntada sobre o segredo da longevidade, explicou: “Não sei dizer. Talvez seja o amor que tenho por tudo”.

A outra amável senhora amiga foi Alaíde Lisboa de Oliveira, nascida em Lambari, numa família privilegiada, sendo irmã dos escritores José Carlos Lisboa e Henriqueta Lisboa, uma das mais belas vozes da poesia brasileira. Coube-me receber de Alaíde obras raras de autoria do marido Mário de Oliveira, mestre como os das velhas gerações que passaram pelo Caraça.

Vinda à luz em 1904, Alaíde faleceu em 2007, com 103 anos e, na Academia Mineira de Letras, ocupou a cadeira nº 5, de que é patrono Bernardo de Vasconcelos, sucedendo ao irmão José Carlos Lisboa. Educadora por excelência, saudou-a a acadêmica Lacyr Schettino, que lhe realçou as virtudes como escritora, com ênfase na literatura infantil, em que produziu livros notáveis até hoje lidos com avidez. Professora da Faculdade de Educação da UFMG e com doutorado em Didática, manteve coluna, durante anos, no jornal “O Diário”, da capital.

Celina e Alaíde, em mais de um século de vida e de devotamento à profissão, à vocação, são exemplos vívidos de mulheres comprometidas com o dever social e humano. Foram e continuam exemplo.

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