* Eduardo Costa
De repente, o presidente da Assembleia Legislativa reúne os colegas da mesa diretora e decide acabar com o auxílio-moradia para deputados que moram em Belo Horizonte. Mas, nem era preciso... Afinal, como é possível dar dinheiro para aluguel se a pessoa mora perto do local de trabalho? Mas, estamos no Brasil, terra na qual há 513 anos os poderosos decidem como o dinheiro dos pagadores de impostos será gasto. E surgem algumas vozes contra. Espantosamente, porque alguns moram sabidamente na capital, caso de Sávio Souza Cruz e Sargento Rodrigues. Gustavo Valadares e Bonifácio Andrada são vizinhos nos limites de Belo Horizonte e Nova Lima – o primeiro em mansão no Belvedere o outro num apartamento de cair o queixo nas seis pistas. Outro que recebe o auxílio é o líder dos direitos humanos Durval Ângelo, morador de Contagem. Aos olhos do eleitor, os R$ 2.850 do auxílio-moradia são apenas mais um dos penduricalhos que deveriam (todos) cair para dar mais transparência no salário.
Em defesa dos “contra”, caso principalmente de Sávio e Rodrigues, pesa um argumento concreto: o auxílio compõe o vencimento, sem o qual não poderão desempenhar bem os mandatos. Ao contrário de parlamentares que moram no interior, são milionários e continuarão recebendo. Outra coisa: os parlamentares contrários à medida apresentaram emendas que cairiam como luva se realmente houvesse firme propósito de moralização. Aliás, são coisas tão óbvias que assustam a sua existência. As emendas incluíam o fim do auxílio-moradia para todos os deputados; publicação da relação de viagens internacionais custeadas pela Assembleia; publicação e congelamento dos supersalários (que, segundo Sávio, chegam a R$ 80 mil), até que todos os servidores estivessem dentro do teto estadual, e mais o fim dos jetons pagos a diretores por extraordinárias.
Detonaram todas as propostas a partir de um relatório feito por Dilzon Melo. Como explicar que alguém viaje pela Assembleia com dinheiro público e isso não seja publicado, não haja prestação de contas, relatório de atividades etc.? E qual é o problema se alguém ganha R$ 80 mil, ainda que por ordem judicial, que isso seja do conhecimento de todos os que pagam a conta? Agora, ficar sabendo que, embora tenha acabado para os deputados, depois de muita pressão, que o pagamento extra (R$ 1.200,00) continua fazendo a alegria de diretores já muito bem remunerados, dá uma vontade danada de a gente enfiar a cabeça no buraco e ficar por lá.
Por que tem de ser assim? As nossas autoridades jogam para a plateia, mas, no fundo, na verdade, não têm o real compromisso com a coisa pública, com o que é de todos. Sou dos que acreditam ser a democracia o melhor regime de governo (pelo menos não conheço outra opção) e que o Legislativo é essencial para mantê-la. Como eu queria que os eleitos por nós também pensassem assim... De verdade!