Gilson Nunes
Jornalista
A Formiga que queria ser princesa e virou cidade está precisando de carinho, de afeto e de muito comprometimento, não apenas com a sua maneira de pensar, não apenas com os pontos de vistas dos conceitos tradicionais que a torna singular, mas principalmente, de uma mudança de hábito, de postura, de atitude. Certamente pessoas vão perguntar: quem é esse tal Gilson que está se metendo conosco? Respondo: ninguém mais do que um filho da terra que deixou a capital do pequi há 23 anos e, em visita no final do ano que passou, percebeu que tudo continua como está, ou até pior. Não se trata de falar mal de Montes Claros. Muito pelo contrário, trata-se de uma tentativa de alertar o povo montes-clarense que o tempo não parou e não vai parar, que a vida continua, e que a rotina do dia-a-dia pode ser modificada, compartilhada com afazeres pitorescos, comunitários, que chame a atenção e a participação da sociedade em geral.
A verdade é que eu percebi que ainda vigora muito a questão do individualismo, do eu precoce, do eu total, poderoso, gostosão. A velha e idiota frase “você é filho de quem”, ainda conspira na inconseqüente ignorância de muitos.
Montes Claros precisa acordar com pensamentos voltados para uma grandeza maior do que o seu próprio nariz. Ela precisa enxergar a realidade dos fatos e, se eles não forem condizentes com o seu ideal, com o seu propósito, não deve permitir que essa realidade continue, progrida. É lamentável ter que falar sobre isso, mas já está passando da hora do povo amadurecer, tornar-se adulto. Será que alguém já se perguntou por que o comodismo é tão intenso? Por que o ostracismo, em vários segmentos da sociedade, é desvairado e acomodado?
Dizem as boas ou más línguas que o mundo é dos espertos. Eu acredito nessa concepção, afinal, o esperto é aquele que enxerga longe, que vai ou tenta ir além de seus limites, não aceitando, no primeiro tempo, o resultado do jogo. Quando eu escrevi sobre “Serviço medíocre”, e que foi publicado por esse responsável jornal, ele relatava sobre o desrespeito de determinados bancos para com o seus clientes – existem bancos que disponibilizam 2 caixas para atender mais de 100 pessoas, numa pseudo-organização através de senha – que, ao mesmo tempo, conformados, conversavam como se estivessem numa praça, ou num mercado, ou até mesmo num ambiente lazer. Achei isso um absurdo, mas entendi que isso faz parte da cultura do montes-clarense: a aceitação dos fatos.
Montes Claros precisa montes-clarear, tornar-se mais independente, ser mais exigente, menos tolerante e, principalmente, ser mais inteligente. Para que isso possa ocorrer, é necessário que a sociedade se organize, se aceite, sem rodeios, sem querer ser aquilo que nunca foi, ou querer ser a imagem de alguém que um dia fez por merecer ser alguém. Perpetuar nomes que a tradição montes-clarense imortalizou é valorizar a origem e a cultura da cidade, mas vivenciar, trazer para si uma determinada condição de vida alimentada pelo nome ancestral da familia, como mote de uma soberania incondicional é o mesmo que parar o relógio, é adormecer o tempo numa ilusão de ótica.
Montes claros, vamos montes-clarear, como deseja o nosso talentoso artista Tino Gomes?