Adilson Cardoso

Ó amada Princesinha do Norte, que anda tristonha e cabisbaixa com tanta violência física e moral. Por ver seus filhos tão jovens sendo sepultados, sem que ao menos tenham sorvido da plenitude da vida. Que, intoxicada no esgoto do Rio Vieira, seu canal venoso que outrora foi água limpa que matou a sede de criados e criações, ciliado por frondosas árvores, mães de pássaros de todas as espécies, sofre a cada aspiração.

Você, que ainda persiste em ser os montes claros sob tanta nuvem destrutiva que o progresso chamou de agilidade, ainda guarda em seu interior a essência que se fez você, pelo alferes Figueira, começando com sesmaria de légua e meia por três de cumprimento, cabeceira do Rio Verde. Ai que dor, princesa amada, quando me lembro que o Vieira emborca bem lá. Rasgou suas entranhas nativas, deflorando sua virgindade, para alcançar a Bahia, chegar ao Rio das Velhas e até Sabará. Muito avanço e a troca de tutor lhe colocam sob as rédeas do alferes José Lopes, que reergueu a igrejinha de Nossa Senhora e São José, já que a antiga estava caindo. Bem ali, onde a imponente Matriz faz seu chamado todos os dias aos seus filhos adoradores.

O tempo passou correndo feito a paisagem do trem baiano e você cresceu tanto que, às vezes, nem se dá conta de quanto, como houve mudanças no seu corpo, a ponto de fazerem em ti uma colcha retalhada com todos as tendências mas, como mãe que assume as peripécias dos filhos, você apenas lamenta quando derrubam suas bases para ganharem dinheiro com estacionamentos, ou matam seus jatobás para criar espaços para festas de cunho somente visando lucro.

Parabéns, Montes Claros! E obrigado por ter acolhido os filhos de Porteirinha e de todos outros lugares que cresceram dizendo que te amam, e morrerão se preciso com sua bandeira em punho.

Vou dançar um Maracanã, nas Alterosas vou celebrar São João se Nossa Senhora das Graças me conceber, pagarei promessa a Santa Cecília na folia de Santos Reis. Esta que é uma Cidade Nova pela luta do Major Prates, louvado seja São Geraldo.

Viva Todos os Santos, que rogam pela nossa Independência lembrando sempre do grito do Ipiranga, nas frases de Lourdes que na liberdade das cores deu-nos o Roxo-Verde, pois o mártir Tiradentes também cabe aqui, como o Presidente Tancredo Neves. Também temos Revolução, Olga Benário morreu sem se desfrutar da Morada do Parque, mas fantasiava com a cidade perdida de Atlântida.