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Sábado,20 de Dezembro

Mistura explosiva

Por Eduardo Costa

Jornal O Norte
Publicado em 04/08/2014 às 20:49.Atualizado em 15/11/2021 às 16:34.

Eduardo Costa

Um trabalho da pesquisadora Elisângela Jaqueline Magalhães, realizado no Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais em parceria com o Instituto de Criminalística do Estado, resultou em artigo para revista científica de circulação internacional e em tese de doutorado, mas, infelizmente, não teve a repercussão que deveria ter entre nós.

Para quem teme o caráter destrutivo do crack, por ser uma droga resultante de misturas explosivas, o estudo revela algo igualmente grave: a cocaína vendida em Minas Gerais tem até 40% de cafeína - substância de ação estimulante, e elevado teor de lidocaína, com função anestésica. A droga fica ainda mais agradável para os usuários, que correm mais riscos com diluentes, como sulfato e carbonato de cálcio e cloreto e bicarbonato de sódio, para aumentar o lucro dos traficantes.

Aqueles que não acompanham o noticiário policial com frequência talvez não saibam de reações absolutamente inumanas que são registradas pela polícia no dia-a-dia. É o usuário que ameaça matar toda a família, o casal drogado que assalta o taxista, toma o dinheiro e o agride com golpes de machadinha ou o rapaz usuário que, de repente, saltou de uma cadeira de rodas e passou a agredir os funcionários de um hospital no Sul de Minas, em quadro de fúria incontrolável. São situações de descontrole altamente perigosas para terceiros e para a própria pessoa. A pergunta é: por que a polícia não fala mais com a universidade, e os professores e pesquisadores não conversam mais com agentes e patrulheiros para que todos tenham melhor compreensão do momento. Depois do trabalho na Química da UFMG a coordenadora da pesquisa, professora Clésia Nascentes, disse que agora é possível conhecer melhor a droga de rua. Então, por que ela não é levada aos batalhões da PM para falar aos policiais que só enfrentam as consequências e, na maioria das vezes, não sabem avaliar o tamanho da encrenca em que estão se metendo exatamente por não conhecer o teor da substância usada pelo cidadão a ser abordado.

O trabalho parece sensacional, até porque as amostras, colocadas à disposição pelo Instituto de Criminalística, foram coletadas em Minas e no Amazonas, resultando em uma constatação aparentemente óbvia, mas, sem dúvida, interessantíssima: a droga oferecida aos mineiros tem um grau de pureza que varia de 6 a 75%, ou seja, pode ser de boa qualidade ou mistura fatal, enquanto a do Norte do país é mais pura – por um motivo simples: lá, estão mais perto dos países produtores, enquanto a cocaína vendida em Minas pode ter passado por vários traficantes intermediários. E repare na gravidade de uma afirmação lógica da professora Clésia ao ver aumentado o risco do usuário: “Como a composição é extremamente variada, a pessoa, caso compre de fornecedores diferentes, às vezes é surpreendida por uma cocaína mais pura, o que pode ocasionar um quadro de overdose, pois ela não estava acostumada com aquela alta concentração”.

Só uma pergunta: já pensaram o que vão encontrar quando pesquisarem a qualidade do crack?

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