Minha terra Montes Claros

Jornal O Norte
Publicado em 08/04/2006 às 12:20.Atualizado em 15/11/2021 às 08:32.

João Roberto de Oliveira



Claros Montes


De uma terra que já foi sertão


Templo de homens e de mulheres


Que de longe vêm rezar aos pés da vida


A esperança de um novo tempo



Montes Claros


Terra que de serras abertas


Recebe os filhos da seca


Da humilhação nordestina


Da vergonha política


Deste norte de Minas, desnorteado



Cidade iluminada


Abençoada por padre Dudu


Dom José, Monsenhor Gustavo


Menina faceira, feiticeira


Montes Claros que virou mãe


De órfãos de pai, de pão, de ilusão



Terra dos catopés


Das folias de reis e pastorinhas


Da marujada, do canto sertanejo


Dançando lundu, cantando o amor


Na voz de Nivaldo Maciel, tocando a vida


Na seresta de João Chaves



Onde está Montes Claros a fé do seu povo?


A força da sua Matriz, da Capela do Rosário,


Do Santuário do Bom Jesus?...


... O poder da sua Catedral?


Acorda, minha terra amada!


Arregala os olhos da vida!


Gangues atacam a procissão do Nosso São Judas


Tadeu já foi a esperança e o coronelismo sertanejo


É ainda pujante, gritante de uma outra forma



Claras fogueiras


Das suas festas juninas, passado apenas


Minha Montes Claros


Foi tomada por outras quadrilhas


Que dançam um balé de morte


Na sorte da roleta dos meninos de rua



Montes claros


Deixou de ser sertaneja


Cresceu em opulência, em violência


Violentada pelo poder metamorfósico


Transformada em referência, delinqüência


Onde está a sua eloqüência, as belas palavras do padre Murta?


Os empolgantes sermões do padre João Batista?


A Teologia da Libertação do padre Oswaldo?



Claros sejam os seus Montes


Minha terra amada, iluminada pela Estrela D’alva


Da gruta dos Santos Reis, do Menino Jesus


Das noites de Natal celebradas na igreja do guerreiro


São Sebastião, onde menino eu buscava pelas ruas


Da Vila Guilhermina o doce perfume das damas-da-noite


Enquanto o galo cantava anunciando a missa do nascimento


Prenúncio de mais um ano, anunciando o medo de ser gente grande



Grande Montes Claros


De casas, portas e janelas gradeadas


De ruas e avenidas, de andarilhos sem destino


Rumando ao encontro da dor, de poesias frias


De olhares perdidos, de esquinas do desencontro


De meninas que se vendem, de velhos que se despedem


Do dia de ontem, do amanhã da felicidade de não virá


Enquanto moços escolhem o desatino debutando com a morte



Minha terra


Deixa ser de novo Natal


Renasça antes do último corte


Da lâmina fina que impede o grito


De homens e mulheres que ainda sonham


Com o espaço da liberdade, da poesia encarnada


Escrita pelas mãos que consagram a vida assinando


Amelina, Braúna, Ivone, Wagner, Renilson, Georgino, Aroldo...

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por