João Roberto de Oliveira
Claros Montes
De uma terra que já foi sertão
Templo de homens e de mulheres
Que de longe vêm rezar aos pés da vida
A esperança de um novo tempo
Montes Claros
Terra que de serras abertas
Recebe os filhos da seca
Da humilhação nordestina
Da vergonha política
Deste norte de Minas, desnorteado
Cidade iluminada
Abençoada por padre Dudu
Dom José, Monsenhor Gustavo
Menina faceira, feiticeira
Montes Claros que virou mãe
De órfãos de pai, de pão, de ilusão
Terra dos catopés
Das folias de reis e pastorinhas
Da marujada, do canto sertanejo
Dançando lundu, cantando o amor
Na voz de Nivaldo Maciel, tocando a vida
Na seresta de João Chaves
Onde está Montes Claros a fé do seu povo?
A força da sua Matriz, da Capela do Rosário,
Do Santuário do Bom Jesus?...
... O poder da sua Catedral?
Acorda, minha terra amada!
Arregala os olhos da vida!
Gangues atacam a procissão do Nosso São Judas
Tadeu já foi a esperança e o coronelismo sertanejo
É ainda pujante, gritante de uma outra forma
Claras fogueiras
Das suas festas juninas, passado apenas
Minha Montes Claros
Foi tomada por outras quadrilhas
Que dançam um balé de morte
Na sorte da roleta dos meninos de rua
Montes claros
Deixou de ser sertaneja
Cresceu em opulência, em violência
Violentada pelo poder metamorfósico
Transformada em referência, delinqüência
Onde está a sua eloqüência, as belas palavras do padre Murta?
Os empolgantes sermões do padre João Batista?
A Teologia da Libertação do padre Oswaldo?
Claros sejam os seus Montes
Minha terra amada, iluminada pela Estrela D’alva
Da gruta dos Santos Reis, do Menino Jesus
Das noites de Natal celebradas na igreja do guerreiro
São Sebastião, onde menino eu buscava pelas ruas
Da Vila Guilhermina o doce perfume das damas-da-noite
Enquanto o galo cantava anunciando a missa do nascimento
Prenúncio de mais um ano, anunciando o medo de ser gente grande
Grande Montes Claros
De casas, portas e janelas gradeadas
De ruas e avenidas, de andarilhos sem destino
Rumando ao encontro da dor, de poesias frias
De olhares perdidos, de esquinas do desencontro
De meninas que se vendem, de velhos que se despedem
Do dia de ontem, do amanhã da felicidade de não virá
Enquanto moços escolhem o desatino debutando com a morte
Minha terra
Deixa ser de novo Natal
Renasça antes do último corte
Da lâmina fina que impede o grito
De homens e mulheres que ainda sonham
Com o espaço da liberdade, da poesia encarnada
Escrita pelas mãos que consagram a vida assinando
Amelina, Braúna, Ivone, Wagner, Renilson, Georgino, Aroldo...