Por Eduardo Costa
Segunda (30), Belo Horizonte viveu mais um daqueles dias em que a gente fica atordoado, sem saber a quem culpar ou como reclamar, enfim, a gente sofre o “efeito blazê” definido por Georg Simmel, sociólogo alemão, como “aquele momento em que a cabeça, bombardeada por imagens, números e informações, fica cansada, desnorteada”. Às 6h, já havia congestionamentos no hipercentro da capital, pois a Afonso Pena estava interditada na altura do número 1.212 e, como não havia fiscalização, os motoristas fechavam cruzamentos em cascata, ao longo da própria avenida e de ruas como Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Na porta da prefeitura, algumas barracas; lá dentro, dezenas de pessoas reclamando o direito à casa própria.
A primeira tendência nossa é a de criticar os invasores, qualificá-los como arruaceiros e exigir ação policial. Mas vejamos alguns dados antes do julgamento e do fuzilamento: a cidade nunca teve uma política de casas para os humildes; em 2009, quando o governo federal lançou o programa “Minha Casa, Minha Vida”, a PBH iludiu todo mundo, chamou para o cadastro e encontrou nada menos que 190 mil famílias. Quatro anos depois e apenas 1.470 casas entregues, a municipalidade diz que aquele cadastro está superado e que os interessados têm que fazer um novo, agora pela internet (como se toda família cuja renda total é de R$ 1.600 tivesse acesso à rede mundial de computadores ou mesmo intimidade com a máquina).
Essas pessoas que ocuparam o prédio da Prefeitura tentam falar com o prefeito há anos e sequer são recebidas. Uma hora, a água represada rompe o dique e foi o que aconteceu. Agora, o que o prefeito, os secretários e nossos vereadores precisam entender é que o diálogo, franco e verdadeiro, é o único caminho.
Ainda que seja para dizer que não tem terreno ou não tem dinheiro, deve-se conversar com os representantes dos sem-teto. Tentar ignorar o problema só vai resultar em mais ocupações, favelas em áreas de risco e conflitos sociais. O duro é que as barracas fecharam a Afonso Pena de novo. E os funcionários da Rede Minas, que têm o direito de lutar pela emissora educativa, também fecharam a avenida Nossa Senhora do Carmo... Haja paciência, pipoca e música boa dentro do carro!