Everaldo Ramos (*)
Não vivi naquela época, mas sei de tudo que você enfrentou nos tempos sombrios da famigerada ditadura militar. Não testemunhei sua dor no cárcere, mas me comovi com o relato da mesma. Sei dos seus feitos, da sua luta, das identidades falsas e do seu arrojo na defesa das liberdades democráticas. A história a tudo registrou. Quizera eu ter tido a sua coragem, para enfrentar a barbárie dos porões da ditadura. Talvez na tivesse a força e resistência necessárias como você teve. Com certeza capitularia diante da torpeza das torturas que você vivenciou.
Hoje te vejo presidenta do meu país. Presidenta não de alguns, mas de todos brasileiros e brasileiras. O significado da sua conquista parece ainda não ter sido dimensionado pela maioria dos brasileiros em especial, suas companheiras mulheres. Você mostrou a todas, ser possível viver num país onde as mulheres sejam, pois respeitadas e tenham reconhecido o seu valor. Você mostrou que, num país tradicionalmente machista, uma mulher pode, sim, destacar-se ao ponto de ocupar o mais alto posto da república brasileira.
A tarefa que ora lhe é apresentada, presidenta Dilma, sei não ser de todas a mais simples. Comandarás um país de economia emergente que, em que pese os avanços do governo anterior do qual você participava, ainda sofre com grandiosas injustiças sociais, concentração de renda e gargalhos estruturais. Mas tudo isso parece não meter medo a quem já enfrentou a barbárie do cárcere e a dor da tortura. Mais grave do que ser torturada, senhora presidenta, é ver os seus padecendo da fome e de miséria num país tão rico como o nosso.
Siga, senhora presidenta, os passos do seu padrinho e antecessor. Governe com a prudência dos justos e com a sabedoria dos grandes estadistas. Faça com que o nosso país continue a ser respeitado como uma democracia consolidada e uma promissora economia. Brade, senhora presidenta, por onde andar, que aqui existe um povo trabalhador que a cada dia não se furta do desafio de construir um pais mais justo e solidário. Não se perca, senhora presidenta, pelos corredores gélidos de Brasília e nem se deixe levar pelo puxa-saquismo costumas peculiar ao poder. Fique atenta, senhora presidenta, aos sanguessugas fisiologistas que não mediram esforços para enlamear seu governo costumeiramente. Se distancie das velhas raposas da república, que, como aves de rapina, estão sempre à espera de um pequeno deslize para migrarem rapidamente para a oposição. Use senhora, presidenta, a sagacidade de quem um dia soube enfrentar o aparato estatal repressor, fugir das armadilhas que lhe foram impostas e resistir à brutalidade do pau de
arara e dos choques elétricos.
Faça, senhora presidenta, um governo ímpar. Governe para todos, em especial, para os menos afortunados. Seja racional nas decisões e dura quando preciso for. Não titubeai e corte a própria carne caso seja preciso. Não dê importância aqueles que julgam ser a famigerada segurança jurídica, algo intocável, mais importante que isso é a defesa do bom direito e o mesmo pode sim ser encontrado nas ruas. Divida a terra, redistribua a renda, continue a investir na educação, cuide da saúde e do nosso meio ambiente. É isso que tanto esperamos daquela que já entrou para nossa história como a primeira mulher a governar o nosso país, mas que poderá também fazer do seu governo o melhor que já tivemos. Com a sensibilidade materna cuide do seu povo, com a bravura de quem lutou contra a ditadura, enfrente as adversidades e, com a lucidez dos grandes estadistas, faça do nosso país o melhor lugar pra se viver.
(*) Professor de história e geopolítica, bacharel em Direito e articulista do jornal O Norte