*Eduardo Costa
Vez por outra me perguntam como encontrar inspiração para escrever três vezes por semana sobre temas que tenham alguma relevância para a maioria das pessoas. Respondo do mesmo jeito que explico acerca da profusão de notícias que transmito todo dia: o segredo é ir para a rua, estar com as pessoas, ouvi-las, e, se não for possível dirimir suas dúvidas, diminuir suas aflições, pelo menos pensar na conversa para, assim, ajudar na reflexão em torno dos novos desafios, buscando na vida da humanidade os modelos de comparação. Ontem, dei uma carona para uma mulher e ela quis saber: “Eduardo, será que esses políticos, os governantes, não vão mudar as coisas, diminuir a violência?” Respondi qualquer coisa, me despedi e, na sequência, pensei: ai está o centro do texto para essa Sexta-Feira Santa. Foi às 3 da tarde, mais ou menos o mesmo horário de minha conversa de ontem que, naquele dia decisivo na história da humanidade, Jesus perguntou ao pai.
Um dos mistérios da vida é o sofrimento. A gente sofre menos ou mais, cedo ou tarde. Mas, sofre. Seja dor de cabeça, fim do namoro, um acidente fatal, seja dor da alma, angústia, com mundo injusto, guerras, terrorismo etc. A dor nos belisca, nos acorda para a realidade de que não somos tão fortes quanto pensávamos. Ela baixa a nossa bola, avisa que precisamos melhorar, sermos humildes. A dor que vivemos nos dias atuais deve ter um significado especial para o qual ainda não olhamos direito: não é possível que a sucessão de horrores a desfilar no noticiário seja algo dentro dos padrões históricos, ainda que seja da nossa natureza humana a autodestruição. O caso do menino do Rio Grande do Sul, por exemplo, é pedagógico. Na falta da mãe, ele pediu ajuda aos coleguinhas, aos vizinhos, aos professores, foi a um promotor e até a um juiz, mas, diante da simples promessa do pai de que iria melhorar, iria cuidar dele como cuidava da nova namorada, o menino foi tratado como criança no sentido menor – ou seja, um adulto em miniatura e não um ser em formação, carente de afeto e estímulos.
Pior é sentir dor e não encontrar alguém para dividi-la conosco. Pelo menos demonstrar que reconhece nosso sofrer. Foi isso que Jesus fez. Ele veio para estar perto de cada homem, de cada mulher, até compartilhar tudo o que é nosso. Ainda mais, ele tomou sobre si todas as nossas dores e fez-se dor conosco, até o ponto de gritar: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
Que tenhamos o espírito de solidariedade em respeito ao sofrimento do filho de Deus, mas, para os práticos, que ouçamos os que choram agora. Só assim poderemos ter uma Páscoa de verdade.
