Dário Teixeira Cotrim *
Em janeiro de 1962, quando aqui estive pela primeira vez, na companhia do meu pai, eu fui ao Cine-Teatro Fátima. Lembro-me ainda do filme, o seu enredo tratava-se de uma ação policial do tipo Vigilante Rodoviário. Era uma película em preto e branco e não tinha as cenas violentas como as existentes nos tempos de hoje. Por outro lado, não sabia eu que o Cine-Teatro Fátima tinha iniciado as suas atividades a menos de dois anos. Era uma novidade nos entretenimentos da cidade.
Retornando ao passado, veremos que a história do cinema, em Montes Claros , começava exatamente no dia 20 de dezembro de 1917, quando o Sr Joaquim Rabelo Júnior inaugurava na cidade o Cine-Teatro Ideal (conhecido naquela época pelo nome de Ideal Cinema). Eram exibidos filmes de 16mm, em preto e branco e mudo. Até porque o som nas películas só veio acontecer duas décadas depois, já no final dos anos 20. Utilizavam-se a apresentação de músicos durante os intervalos para animar a distinta platéia. Conforme registro no livro Montes Claros de ontem e de hoje, das acadêmicas Yvonne Silveira e Zezé Colares, “uma orquestra, aqui composta por Dulce Sarmento, Artur Versiani dos Anjos, Adail Sarmento, depois Sebastião Mendes (Ducho) e outros executava números musicais de acordo com as cenas” dos filmes. Esses cinemas funcionavam muitas vezes em terreno baldio, onde os espectadores traziam as cadeiras de suas casas para se sentarem. A programação era totalmente irregular, tendo em vista as dificuldades dos correios em trazer os rolos de filmes da Capital para cá. Durante os dez primeiros anos o cinema teve pouca expressão como atividade comercial de exibição de fitas, sejam elas importadas ou não.
Alguns anos depois, por iniciativa da firma Luiz Guedes e Cia., a cidade de Montes Claros era dotada de uma pequena sala de projeção. Assim nascia o Cine Renascença, no dia 9 de abril de 1922, que ficava situado à Rua Governador Valadares. Tempos depois, no dia 6 de junho de 1931, iniciava-se aqui o cinema sonoro. Era o Cine Montes Claros, da empresa J. Pacudino & Filhos, que apresentava ao público um filme de guerra intitulado Sem Novidade no Front, baseado no livro Nada de Novo na Frente Ocidental, do escritor Eric Maria Remarque.
Vieram depois muitos outros cinemas. O primeiro deles foi construído pelo empresário Mário Lunart e se chamava Cine-Teatro Metrópole. Este cinema ficava situado à Rua Simeão Ribeiro. A sua inauguração se deu no dia 2 de janeiro de 1938. Entretanto, depois de algumas reformas, neste prédio foram acomodados os projetores do Cine São Luiz de saudosas lembranças.
Nada mais de notável havia senão as sessões de cinema. Embalado na fantasia do estrelato cinematográfico, a empresa da viúva Pacudino mandava construir o Cine Ypiranga. Este cinema foi inaugurado no dia 15 de agosto de 1944 e ficava na Rua Melo Viana. Neste mesmo ano é construído também o Cine Coronel Ribeiro, que teve a sua inauguração no dia 5 de dezembro. O luxuoso salão ficava na Praça Coronel Ribeiro e a escolha do seu foi uma homenagem, por concurso, de Filomeno Ribeiro dos Santos à memória do industrial Francisco Ribeiro dos Santos. No dia 19 de junho de 1955 e colocado no Cine Coronel Ribeiro a tela panorâmica que se conhecia pelo nome de CinemaScope e os filmes de 35mm passaram a ser exibidos ali.
Com o advento de novas técnicas, o cinema ganhava espaço na preferência da população. Criou-se no dia primeiro de maio de 1955 o Cine Nova Olinda, que ficava na Avenida Ovídio de Abreu, mas sobreviveu por pouco tempo. Em seguida, no dia 13 de fevereiro de 1960 é inaugurado o Cine Teatro Fátima, que exibia filmes de 55mm e 70mm, as superproduções filmadas em ultra panavision com seis faixas de som estereofônico.
Com a inauguração do luxuoso Cine-Teatro Fátima, iniciava uma nova fase no cinema de Montes Claros. Pela importância do evento, no ato de sua inauguração compareceram diversas autoridades. Entre ales podemos citar aqui o bispo diocesano de Montes Claros, dom José Alves Trindade, o prefeito municipal Dr Simeão Ribeiro Pires e o presidente da Câmara, vereador João Vale Maurício. O Cine-Teatro Fátima ficava localizado à Rua Dom Pedro Segundo e pertencia ao empresário Euler de Araújo Lafetá.
Por um longo tempo a cidade de Montes Claros se destacava, com ufania, por possuir cinco Cinemas. Em vista disso, criaram-se duas empresas cinematográficas: Cinemas do Norte de Minas Gerais Ltda. e a Empresa Cinematográfica Euler Lafetá. A primeira empresa administrava o Cine Coronel Ribeiro, o Cine Montes Claros e o Cine São Luis. A segunda, o Cine-Teatro Fátima e o Cine-Teatro Lafetá. Com o advento da televisão todos esses cinemas encerraram as suas atividades. Entretanto, esse fenômeno não aconteceu somente aqui em Montes Claros , mas em todos os lugares, onde as salas de cinema transformam-se e “igrejas” banalizando a fé religiosa em Deus. A indústria cinematográfica investiu na produção de filmes pornográficos o que sustentou a permanência de alguns cinemas ainda por algum tempo. Mas, por muito pouco tempo. Presentemente, somente no Shopping Center de Montes Claros existem três Moviplex’s. Uma nova concepção para as salas de projeções de filmes.
* Historiador, membro do Instituto histórico e geográfico de Montes Claros e de Minas Gerais