Dário Teixeira Cotrim *
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e de Montes Claros e da Academia montes-clarense de letras
Com o mesmo intróito da crônica anterior é que baseado no livro O Homem no Vale do São Francisco, de Donald Pierson, extraímos algumas informações sobre o transporte existente na cidade de Montes Claros no ano de 1950. Esses registros foram catalogados pelo Instituto de Antropologia Social, durante pesquisa da Smithmian Institution de Washington, no Colégio de Sociologia de São Paulo entre os anos de 1945/1951.
Conforme já exposto, nesta segunda parte abordaremos, sucintamente, o transporte do gado bovino e outros meios de locomoção.
TRANSPORTE DO GADO BOVINO NO ANO DE 1950
Desde o inicio da criação de gado bovino no Vale do São Francisco e em áreas contíguas, os animais tem andado até as feiras onde eram comercializados. Os mercados municipais recebiam de Goiás imensos rebanhos que eram tangidos a pé, exceto nas áreas dotadas de estrada de ferro, por vaqueiros. Os quatro maiores mercados do gado bovino eram Belo Horizonte, Montes Claros, no Estado de Minas Gerais e Feira de Santana (Bahia) e Recife (Pernambuco), na região Nordeste.
Embora lento, até a década de 50, aqui em nossa cidade de Montes Claros o carro de boi e as tropas constituíram o meio mais eficiente e econômico de transporte de produtos agrícolas ou de outra natureza (lenharias). Utilizava-se o carro de boi de qualquer caminho e em qualquer época do ano. Disse Macedo que no ano de 1952 “o carro de boi será ainda por muito tempo o principal veículos das fazendas sertanejas”. Ainda acrescentou que “era sinal de progresso atividades agrícolas”, de modo que “um bom carro e as boas juntas de bois constituem motivo de orgulho, não só de fazendeiro como do próprio carreiro”. Mas, a Câmara Municipal de Montes Claros edita uma lei proibindo o transito de carro de bois pelas ruas da cidade. Disse a nossa confreira Ruth Tupinambá Graça que a “notícia estourou como uma bomba”.
OUTROS MEIOS DE TRANSPORTES EXISTENTES NO ANO DE 1950
No ano de 1950, foram entrevistados 53 imigrantes na Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo que disseram ter utilizados vários tipos de transporte para chegarem até a capital paulista. Informaram eles: mula, navio, e trem; trem apenas; canoa, trem e caminhão; caminhão apenas; caminhão e trem e, em alguns poucos casos, a pé. Muitos desses imigrantes eram nordestinos, principalmente, baianos. No mês de janeiro de 1952, segundo o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, 3.385 migrantes baianos passaram por Montes Claros em caminhões, ônibus e trem, dos quais 3.172 com destino à cidade de São Paulo.
“Com a abertura da junção ferroviária Salvador-Rio em 1947, um novo e importante meio de transporte surgiu para aquele que, caso tivesse viajado antes, somente com maiores dificuldades alcançariam Montes Claros e Pirapora. Antes da conexão ferroviária, Humberto Dantes citava como principais subcentros de concentração, no caso de Pirapora, os seguintes: Juazeiro Bom Jesus da Lapa, e Remanso; e no caso de Montes Claros: Urandi e Condeúba, que tinham como subcentros, por seu lado, Caetité e Caculé” (Conjuntura Econômica, página 593).
TRANSPORTE AÉREO DE MONTES CLAROS NO ANO DE 1950
As anotações aqui se referem apenas o que acontecia no ano de 1950. Disse Ronald Pierson que “uma linha da Real liga Belo Horizonte ao canteiro de obras da represa de Três Marias, no São Francisco, daí seguindo para Pirapora e Montes Claros”. Também a Força Aérea Brasileira inaugurou uma linha para prestação de serviços do Correio Aéreo Nacional, de Montes Claros com escalas em Bom Jesus da Lapa, Xique-Xique e Petrolina. Em meados do ano de 1950, a empresa Nacional de Transportes Aéreos chegava à cidade de Pirapora, em vôo de Belo Horizonte nas segundas e sextas-feiras e aqui em Montes Claros , diariamente, exceto aos sábados.