Mara Narciso*
Colaboradora
No Brasil formam-se por ano 16 mil e quinhentos médicos. Os Conselhos de Medicina querem fechar algumas escolas médicas por não formarem bons médicos. Apenas 40% dos recém-formados fazem Residência Médica. Para suprir essa lacuna foram criados os cursos de especialização, que tentam, mas não substituem as residências.
Tempos atrás o saber médico não era questionado. Antes da divulgação de assuntos médicos em revistas leigas, televisão e internet, havia uma mística de magia oculta na antipedagógica letra ruim. Devido ao pouco acesso a informação, a sociedade aceitava uma receita e escassas palavras. A Medicina cabia em alguns livros, e hoje uma doença enche toda uma biblioteca. Era de praxe esconder do doente o que ele tinha, mas com o tempo se viu que a participação da pessoa era primordial para a melhora, ainda mais com a cronificação de doenças que antes eram fatais.
A ignorância geral sobre doenças tornava parte dos médicos pessoas misteriosas, de saber inatingível, até mesmo prepotentes. A proletarização da Medicina tirou a independência financeira do médico, antes um profissional liberal, que passou a ter empregos e receber de terceiros e não diretamente do cliente. Como o médico não ganha tão bem quanto antes, para manter a família, precisa trabalhar em vários locais. Devido aos deslocamentos e excesso de doentes, não tem como atender adequadamente, ficando cansado e mostrando-se frio e até mal educado.
Por imaturidade, alguns profissionais podem mostrar impaciência com a dificuldade de a pessoa entender o que lhe é explicado, ou quando o doente mostra desinteresse, podendo ser alertado com palavras cortantes. É possível que parte deles já tenha agido dessa forma. É necessário treinar a tolerância e estimular a paciência. Mas ainda assim, permanecem as coisas de médicos, a inacessibilidade, a pressa, a propalada letra ruim e os intermináveis atrasos.
“Paciente espera médico, e não médico espera paciente”, é o que sempre se ouviu. O atraso médico institucionalizado é uma falta de respeito. Uma fonte de stress extra para o cliente. Ao médico é difícil controlar o tempo da consulta, dominar sua agenda, pois mesmo havendo uma média de minutos para o atendimento dentro de cada especialidade, há casos que demandam mais tempo e com isso entram no outro horário. Assuntos hospitalares são ainda mais imprevisíveis.
Certo médico mandava sua secretária marcar consultas a partir das 8h. Ao fim do expediente matinal, às 11h30m, a secretária telefonava-lhe dizendo que a sala estava cheia. Do outro lado ele explicava que ainda iria demorar, pois estava em banho de imersão na hidromassagem. Mais pacientes, em outro local estavam em jejum esperando para fazer exames, mas estes só seriam atendidos após as consultas. Quando? Talvez depois de mais tarde.
Quando o médico passa mal, e apresenta-se sem condições de continuar no atendimento, avisa através da sua secretária aos que estão a sua espera. Quando os clientes ficam sabendo do fato, podem reclamar que deveriam ter sido avisados no dia anterior, e que não sabiam que médico adoecia. Mas como? Caso assim fosse, bastaria estudar Medicina para se tornar imortal.
Nada pior do que os insuportáveis conselhos, mas é bom desligar o celular durante a consulta. Educação cabe em todo lugar, da parte dos médicos e dos pacientes, que agem algumas vezes de forma imprudente, de entrar durante a consulta do outro e querer ser atendido de qualquer maneira. Diante das dificuldades, aí sim, é preciso paz nos consultórios, calma, voz suave de ambos os lados, explicações adequadas, atenção, boa letra, preço justo, e, por favor, atrasos menores, dentro das boas normas de educação. Médico chegar com mais de uma hora de atraso é desumano.
*Mara Narciso é médica endocrinologista, jornalista diplomada, autora do livro “Segurando a Hiperatividade”, membro da Academia Feminina de Letras e escreve no Blog Sem Excessos e com Saúde, do site www.teclai.com.br .