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Sexta-Feira,27 de Junho

Marco de descrença

Jornal O Norte
Publicado em 28/04/2009 às 09:28.Atualizado em 15/11/2021 às 06:57.

Anelito de Oliveira



Com a participação de mais de 600 pessoas, representantes de inúmeros movimentos sociais, a passeata que aconteceu pelas ruas da cidade nesta sexta-feira 24 de abril, puxada pelo Coletivo Assembleia Popular de Montes Claros, é, sem dúvida nenhuma, o fato político-social mais relevante deste primeiro semestre do ano no município. Serve como aviso eloquente ao prefeito Luiz Tadeu Leite sobre algo que exige inteligência política (uma esperteza mais metódica) para ser bem entendido e administrado: a nova configuração da própria esfera política em termos globais e locais.



A política não está mais, como pareceu e tanto esteve realmente, restrita às instituições partidárias, tampouco aos políticos profissionais, que perdem, cada vez mais, não só seu poder real, mas também simbólico. Acreditar no que partidos e políticos dizem vai se tornando o caminho mais longo para se aproximar da realidade vivenciada pelos grupos sociais que eles apenas supostamente representam em sua totalidade. E não se trata de um ou outro partido, de um ou outro político, mas de todos os partidos e políticos profissionais, todos estão distantes da realidade vivenciada pelas pessoas em geral.



No fundo, partidos e políticos hoje representam exclusivamente seus próprios interesses, não apenas por razões óbvias – porque estão na política para encher os bolsos mesmo, porque são mentirosos etc  -, mas pelo fato de que não mais conseguem se apropriar de uma realidade tão dinâmica. Tudo muda o tempo todo por todos os lados, ao ritmo das novas tecnologias de informação, exigindo respostas imediatas, cuja eficiência, por sua vez, exige interação com o local onde essas mudanças se processam. Os partidos e os políticos estão presos à rede global, exercendo um poder virtual, fechados em si mesmos.  



Assim, a governabilidade que se consegue garantir, dentro do esquema das alianças, com o apoio de partidos e políticos neste século é algo bastante virtual, que contém uma dimensão real – ainda representam alguma coisa, claro, partidos e políticos -, mas que não corresponde à realidade total numa cidade, num Estado ou num país. Pode-se dizer que as alianças garantem ao prefeito, governador ou presidente uma governabilidade mais de fachada, com um custo enorme e um benefício mínimo para a administração pública, uma manobra que só se explica pelo fato de o contribuinte pagar a conta.      



De certa forma, é a consciência de estar sendo penalizado por um crime que não cometeu, de estar pagando a conta de partidos e políticos na sua própria conta de água ou no seu bilhete de ônibus, é que tem levado as pessoas a se organizarem e partir pra cima do poder público, exigindo solução imediata para os muitos problemas que se apresentam no dia-a-dia, no aqui-agora da vida real. Ninguém acredita mais que esses problemas sejam prioridade para os partidos e políticos que estão à frente da administração pública em geral. Em Montes Claros, a passeata de 24 de abril marca o início de uma séria descrença na terceira administração de Luiz Tadeu Leite. 



* Anelito de Oliveira é Doutor em Letras pela USP, Mestre em Letras pela UFMG, ex-Superintendente de Publicações e Editor do Suplemento Literário de Minas Gerais (1999-2003), Professor do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Social da Unimontes (PPGDS), Diretor do Núcleo de Estudos Sobre Hannah Arendt (NESHA), Professor e Coordenador-Adjunto do Programa de Mestrado em Estudos Literários da Unimontes (PPGLEL). anelitodeoliveira@gmail.com


www.anelitodeoliveira.blogspot.com

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