Mais um Veloso no céu - por Wandré Nunes de Pinho Veloso

Jornal O Norte
Publicado em 10/08/2007 às 11:03.Atualizado em 15/11/2021 às 08:12.

Wandré Nunes de Pinho Veloso *



Aos 15 de junho de 2007, faleceu em Montes Claros, por volta das 17h20, meu avô Francisco Caldeira Veloso, carinhosamente chamado de Farnôt.



Lembro-me até hoje de quando descobri que o meu Vô Farnôt chama-se Francisco e que minha vó Ita chama-se Itamar. No dia da descoberta, esse fato foi motivo de risos para mim e para o meu irmão Duran, na época, eu com 6 ou 7 anos de idade e Duran com 2 ou 3 anos de idade. Duran comparava minha avó Ita com o político Itamar Franco, se não me engano, governador de Minas ou vice-presidente da República, na época. Nesse dia estávamos fazendo uma entrevista com nossos avós usando um gravador de fita cassete, em uma época que eu era menos tímido para essas coisas (risos).



Como não me lembrar dos sorrisos que recebia todas as vezes que visitava meus avós? Não me lembro de nenhum dia que estive na casa deles e que não fui recebido com carinhosos “Deus te abençoe” e “Cê tá bonzim?” (essa última, fala de minha avó), todos com um sorriso estampado no rosto. Como não lembrar as incontáveis histórias, verídicas, porém, muitas vezes, interpretadas por mim como piadas? Diversas histórias estão retratadas de forma que, a meu ver, é espetacular, no livro Farnôt, publicado por Waldir de Pinho Veloso, meu lindo e amado pai.



Lembro-me, talvez com algumas informações erradas, de uma história que meu avô contara há poucos anos. Peço desculpas desde já pela escrita, pois, como as pessoas que me conhecem mais sabem, não sei contar histórias, muito menos como meu vô Farnôt. Ele tinha ido à Santa Casa de Montes Claros para fazer um exame de sangue. Chegando lá, foi atendido e encaminhado à sala específica.



O fato interessante é que a enfermeira que apareceu para lhe tirar o sangue era uma mulher grande, de pele escura e com a aparência de não ser nem um pouco delicada. Como se já não bastasse, ela tinha acabado de brigar com o namorado ou marido dela. Meu avô contava nesse dia, que cada vez que a enfermeira tocava no assunto da briga ou que se lembrava do companheiro, ela “furava” meu avô mais uma vez para colher o sangue. Segundo meu vô, nesse dia, ela mencionou no assunto com muito afinco, “afincando” a agulha em seu braço diversas vezes.



Lembro-me também das inúmeras vezes que nós, os netos, fomos à sua casa assistir jogos de futebol do Brasil na sala com “minha titia” (tia Marilene), não antes de passar no quarto e pedir “bença” para vovó Ita e vovô Farnôt, quando um dos dois não estava na sala conosco. Nos jogos do Brasil, tanto na Copa do Mundo, quanto nas Olimpíadas, vovó fazia pipoca na panela para nós e vovô trazia pipoca, daquelas amarelas que são compradas, semelhantes à “Elma Chips”.



Foram muitas vezes que nosso avô se sentava conosco para assistir o jogo e, mesmo sem estar entendendo algo ou conversando com alguém, vibrava conosco os gols do Brasil no futebol. São tantos detalhes e fatos que, se discorresse tudo o que está me vindo à cabeça, este texto se tornaria um livro dos grandes.



Pedir “bença” é um fato muito interessante. Quando pequenos, fomos instruídos pelos nossos pais, que devemos pedir a bênção aos nossos tios e avós para podermos crescer, com a ameaça de que, se não o fizéssemos, ficaríamos com a estatura de nossa vó Ita (risos).



Sabemos hoje que o ato simples de pedir a bênção é pedir que o outro interceda a Deus por nós. Com vovô Farnôt aconteceu um fato mais interessante ainda. Todos os netos e filhos sempre pedem a bênção, porém, quando minha irmã Giowana era bem pequena, ela pediu “bença” para meu avô e ele, ao pegar em sua mão, em vez de balançá-la, começou a pular e balançar o seu corpo para que sua mão também fosse balançada. Eu vi essa brincadeira pela primeira vez com meu pai fazendo.



Arrisco-me ainda a lembrar de um fato simples, porém muito santo e lindo. Todas as vezes que alguém chegava à sua de vovô Farnôt, seja na sala, no quarto ou na sala da televisão (onde assistimos aos tão famosos jogos do Brasil), ele sempre solicitava que sentássemos. O mais interessante é que, ao ver que não tinha nenhuma cadeira vaga, ele mesmo, com, às vezes, quatro vezes a nossa idade, levantava-se e insistia que sentássemos em seu lugar. Um fato semelhante a esse ocorreu dias antes de ele ser internado, pela última vez, na última ocasião que vi meu Avô e que, graças aos meus pais que foram comigo, fiz o que eu queria, fui vê-lo.



Sinto o peso da gravidade nas lágrimas que querem correr dos meus olhos. Já diz o diácono Nelsinho Corrêa em uma música chamada “Saudade”, “Só se tem saudade do que é bom, se chorei de saudade não foi por fraqueza, foi porque amei. [...]”. Agora, por mais força que eu tenha, a força da gravidade me venceu.



Eu sei que nós, filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, demais parentes e conhecidos de Francisco Caldeira Veloso, podemos dizer que temos em nossa vida exemplo de resistência, perseverança, alegria e também santidade, em nos nossos pais, avós, bisavós ou tios, Farnôt e Ita.



Amo-os muito. Eles, assim como meus avós, pais de minha linda e amada mãe, moram em meu coração. A “família”, em seus sentidos mais amplos, como pode confirmar a professora universitária Denise Veloso, sobrinha de vovô Farnôt, que ministra aulas que contemplam esse assunto, tem exemplo e motivação para continuar sendo um bem que ninguém pode tirar ou abalar nessa família Veloso.



Meus abraços a todos que não pude dar devido à distância física. Espero que esse momento seja um momento feliz e lindo, pois temos junto a Deus, no céu, mais um Veloso: Francisco Caldeira Veloso, vovô Farnôt.



* Graduado em Sistemas de Informação pela Unimontes

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