Luiz Carlos Amorim
Escritor e editor
Voltando ao assunto “Harry Potter como incentivador do gosto pela leitura em jovens de pouco idade”, vou falar do lado proibido dessa tendência. Vocês já vão entender o porquê do “proibido”.
O ensino fundamental no Brasil deve ter, no seu conteúdo programático, uma obrigatoriedade de impor aos estudantes – leitores em formação – a leitura da literatura clássica, desde as primeiras produções de romance, por exemplo, em terras tupiniquins. É normal os professores do primeiro e segundo graus, obrigam suas turmas a lerem José de Alencar, Machado de Assis e outros autores consagrados do passado, sob a condição da nota, que pode colocar em jogo todo o ano letivo.
É bom frisar que a culpa não é dos autores de livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Iracema”, “O Guarani”, “A Moreninha”, “Escrava Isaura”, “O Cortiço” e tantos outros. A culpa é nossa, de pais e professores – sem generalizar, pois existem professores e escolas fazendo trabalho excelente e inovador nesse sentido - que não sabem (ou não podem, ou não querem) como incutir o gosto pela leitura nas crianças, pré-adolescentes e adolescentes.
Criança que não convive com livros em casa, desde cedo, e quando chega à escola é obrigada a ler livros sem ser cativada para isso, sem ter motivação para isso, não vai gostar de ler. Se não lhe passarmos a magia e o encantamento que estão contidos nos livros, o conhecimento e a diversão que podem ser encontrados neles, se não esclarecermos que eles, leitores, terão a criatividade e a imaginação aguçadas com eles, como esperar que gostem de livros? Se o os obrigarmos a ler livros que não tem muito a ver com eles, com o seu tempo, com o seu espaço, eles terão, isso sim, aversão a livros, como é comum acontecer.
Então, se livros como os de Harry Potter, Contos de Nárnia, O Senhor dos Anéis e outros do gênero, dão o prazer da leitura aos pequenos leitores, porque não deixá-los ler esses livros, pra começar, - livros escolhidos por eles - e depois, quando já estiverem firmando o hábito de ler, apresentarmos os clássicos como José de Alencar, Bernardo Guimarães, Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Júlio Ribeiro e outros?
Mas antes de passarmos para os clássicos, deveríamos aproveitar o entusiasmo pela leitura das aventuras fantásticas de um garoto fantástico para introduzir a leitura também fantástica maravilhosa de autores brasileiros. A começar por Lobato, que vai fundo na fantasia e na imaginação das crianças, criando uma boneca viva, uma espiga de milho que fala e que faz misérias, um Saci-Pererê (figura do folclore brasileiro), uma cuca (também do rico folclore brasileiro, conhecida por todos), e mais, muito mais.
