Língua estrangeira

Jornal O Norte
04/11/2005 às 10:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:53

Itamaury Teles de Oliveira *

Não se pode negar a influência da língua estrangeira, principalmente do inglês, nos dias atuais. Basta dar uma olhada à nossa volta para percebermos o uso abusivo de palavras alienígenas.

Não se diz mais entrega em domicílio, mas delivery. É mais chique e, segundo os publicitários, atinge direto o público alvo, pois quem não souber o que é‚ também não tem poder aquisitivo para comprar o que se quer vender...

Diz-se hoje, com efeito, que quem dominar apenas uma língua está  fadado a receber o bilhete azul do desemprego mais cedo!

Isso me faz lembrar de um caso interessante que ouvi contar sobre um chefe paternalista, figura encontradiça em algumas empresas públicas brasileiras, num passado não muito remoto. Anualmente, esse nosso barnabé tinha como encargo elaborar a avaliação funcional de seus subordinados. Como uma boa parte era apadrinhada, o chefe encontrou uma fórmula bastante eficaz de não criar arestas políticas que o expusessem a uma primeira troca de governo. Assim, as pessoas lotadas em sua seção eram sempre funcionários dedicados, exímios datilógrafos, pais extremados e maridos exemplares. Para os mais apadrinhados, acrescentava um toque especial: Fala fluentemente o inglês.



Houve um caso, todavia, que após ter registrado o atributo lingüístico, o chefe vacilou. O funcionário não havia concluído sequer o curso primário e, por isso, entendeu de bom alvitre dar um cunho mais profissional aos seus assentamentos. Interrompeu a datilografia, retirou os óculos em meia-lua que corrigiam sua presbiopia e gritou, fitando ao longe o indigitado servidor:

- Asdrúbal, você fala inglês ?

- Oui, chefinho... - respondeu gentilmente o funcionário.

O chefe não teve mais dúvidas. Recolocou os óculos e concluiu, com convicção:

- E francês também.

Outro caso aconteceu comigo. Relembrei-me dele recentemente, quando vasculhava alfarrábios na casa da minha mãe, em Porteirinha, e encontrei um velho livro de inglês. A capa em estado precário, mas as páginas bem conservadas. Na primeira, lá  estavam a minha assinatura e a de quatro irmãos mais velhos. Bons tempos em que os livros didáticos não eram considerados produtos descartáveis após o uso.

O acontecido parece mentira, mas dá bem a dimensão do pouco preparo de alguns professores para o ensino do inglês.

A professora era recém-formada normalista em um colégio de freiras em Montes Claros. Voltara à terra e recebeu como encargo dar aulas de inglês para uma turma da primeira série ginasial, em substituição ao professor titular, que adoecera.

Primeiro dia, primeira lição do livro Spoken English, de João Fonseca. A professora lá  firme, apontando tudo que havia dentro da sala de aula e perguntando:

- What is this?

Ninguém respondia e ela, apontando um livro, ensinava, em alto e bom som:

- It is a book.

E assim ia, naquela repetitiva latomia: “

- It is a pen, It is a pencil...

Eu comecei a achar aquilo meio enfadonho e resolvi folhear o livro. Esqueci da aula e mergulhei naquele mundo de palavras desconhecidas e de gravuras coloridas retratando paisagens e povos de culturas diferentes.  Foi quando encontrei uma preciosidade, que já havia visto na letra da música Help, dos Beatles: a palavra somebody (Help/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"right">* Escritor e jornalista

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