Liege Rocha canta o que mais gosta

Jornal O Norte
19/05/2009 às 16:04.
Atualizado em 15/11/2021 às 06:59

Waldir de Pinho Veloso


Advogado, escritor e professor universitário

A montes-clarense Liege Rocha teve um sonho de gravar discos e ser cantora de sucesso. Muito jovem, teve inicial apoio de Roberto Carlos para uma gravação em São Paulo, mas optou por continuar morando em Montes Claros. Mais tarde, abdicou da carreira para se casar. Cuidou da família (o marido João, os filhos Caroline e João). Depois, completou os estudos superiores e se graduou em Direito. Passou a ter a advocacia como profissão.

Há menos de dois anos, resolveu completar o seu sonho. Os sonhos têm como característica principal, a espera. Sem desespero.

A gravação de um CD, por Liege Rocha, confirmou a sua condição de saber cantar. E bem. E não se limitou a ser intérprete. Também gravou música de sua própria autoria. Em verdade, o lado de compositora de Liege ficou para um outro CD, já que ela tem composições próprias em número suficiente para mais de um trabalho. O que ela queria, mesmo, era ter o prazer de cantar as músicas entrelaçadas em termos de autoria. O seu sonho não se limitava a se mostrar compositora e, sim, mostrar o seu modo de cantar algumas canções que o tempo já externou, em outras vozes, em outras vezes. E em outros timbres. A escolha do repertório foi pessoal, cadenciada com o que a cantora mais gostaria de gravar. Fez o que gosta. Também por isso, gravou com qualidade. 

Foi assim que ela escolheu “Como é grande o meu amor por Você”, canção romântica de Roberto Carlos e cuja interpretação, por ele próprio, foi sucesso incontestável e isolado por longo tempo. Se houver a classificação de “música clássica”, poderia haver a visão de que se trata de um estilo. Mas, se pensarmos em “clássica” no sentido original do termo, que é “digna de ser seguida”, Liege bem escolheu a clássica “As rosas não falam”, em que o genial Cartola, extremamente simples e morando em uma favela carioca, foi capaz de escrever: “queixo-me às rosas/ mas, que bobagem/ as rosas não falam/ simplesmente as rosas exalam/ o perfume que roubam de ti”. E ainda há outras passagens encantadoras.

E, ao cantar “As rosas não falam”, Liege encanta.

E não deixa de carregar na emoção ao cantar outra sua canção preferida, “Carolina”, de Chico Buarque. E as clássicas continuam em seu repertório: “Viola enluarada” (Marcos Valle) e “Custe o que custar” (Edson Ribeiro-Hélio Justo) se somam a “Camisa listada” (de Assis Valente em parceria com Carmem Miranda). E, em sequência à composição de Nagib e Tico, chamada “A importância do amor” (que dá nome ao CD, sendo que a dupla de compositores deu todo o suporte para a gravação do CD, produzindo, dirigindo e ainda participando como instrumentistas), Liege gravou “Naquela Mesa”, de Sérgio Bittencourt.

Na linha regional, Liege fez uma homenagem à sua cidade, ao gravar o que ela denominou “Pout-porri Montes Claros 150 anos”. As imortalizadas músicas das serestas foram entrecortadas de adaptações como “ô, deita Tino/ levanta João”, quando faz referência ao cantor e compositor Tino Gomes, que tem participação especial na gravação, e à família. 

Como composição própria, Liege escolheu apenas uma. “Apenas” quanto a número, mas com qualidade suficiente para fazer a sua apresentação com requinte. O tema é um romance. E, a exemplo de outras músicas classificadas como românticas, fala de um momento difícil de um casal em que há “uma casa, um silêncio/ e mais uma vez/ a esperança de um novo amor”. Como se vê, alguém se separa mais uma vez e pede que o (ou a) “ex”, definitivamente, “junte sua bagagem” por não querer mais “viver de ilusão”, e “leve sua imagem/ do que fomos e vivemos/ de coração”. E o que restou deste relacionamento foi a presença de apenas um dos integrantes do ex-casal, que fica em silêncio, na casa que habitaram juntos, e sem “a doce ilusão/ de que nada deixou”. Há o pedido de que quem parte pense “no que fomos/ no que restou”. E, juntamente com o silêncio da solidão, a ideia de que pode vir a aparecer uma outra pessoa. Um “Novo amor”, que é o título da música. 

Uma realidade triste, em verdade. Muitas músicas são tristes, também é verdade. O que se vê em grande quantidade em músicas e poemas é o cantar de uma vida despedaçada. Tema que não sairá de moda. Jamais. Até mesmo porque há sempre novas pessoas para viver as desilusões, para descompor as uniões, para vivenciar as separações. E, quase sempre, quando se separa um casal, há “a esperança de um novo amor”, como escreveu Liege.

Ela, por sinal, muitíssimo bem casada e feliz com a família que tem, incluindo pais (Seu José Gomes é veterano de Guerra e foi o primeiro – e durante muito tempo, único – Fiscal do Trabalho em Montes Claros) e irmãos.   

Para contatos e aquisição do CD (afinal, é um trabalho independente e é sempre bom um apoio à arte), os telefones de Liege são (38) 3222.2001, 3212.1455 ou 9945.6198.

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