Felicidade Patrocínio
Escultora e membro do Instituto Histórico e Geográfico
Ao longo da história da humanidade vamos encontrar lampejos que sinalizam a vontade de libertação da mulher da sua condição servil, submissa e submersa. No entanto será no séc. XX que se fará o clarão de uma nova condição para o sexo feminino.
Longa foi a estrada, doloroso o empenho. Diante do espetáculo das queimas nas fogueiras das calunias, violências, injustiças, das desapropriações ontológicas, a mulher engolia o sal misturado ao amargor de suas bocas.A dor e os ideais reprimidos poderiam tê-la paralizado.
No entanto, com olhos no horizonte, no porvir, ela sempre reuniu e ainda reúne os fragmentos que a história não pode ignorar e, marcha.Sua marcha é lenta, mas não admite retrocessos.Aporta no séc. XX onde o passo se acelera. São muitas as transformações. Seus espaços se ampliam, e ela assume nova posição, sem abandonar os deveres da antiga faina.
A mulher recorda o seu sonho, conquista-o, realiza-o. Estende o seu braço criador e agenciador à toda sociedade já no advento da globalização.
É presença nas escolas, nas indústrias, nas grandes corporações econômicas e políticas. Está em maior número nas universidades.É arrimo de famílias.
Consome e opera as novas tecnologias Dirige o seu carro,o ônibus, tratores e aeroplanos. Varre a rua e derrama nela o asfalto, é presença nas delegacias, no campo, no comando de nações e faz arte de primeira qualidade.
No rastro do seu gesto, deixa visível, as marcas da sua capacidade e um pouco da sua doçura e mistério. Já se discute nas oratórias executivas que o jeito peculiar da mulher nos cargos de comando leva a uma liderança exercida mais como orientação e menos como ditadura, o que é bom. Já se fez claro o princípio de que “mulheres e homens são diferentes, mas não desiguais”.
Essa mulher executiva, artista plástica, musicista, política, varredeira de rua, motorista de táxi, cozinheira, reitora de universidade, escritora, continua sendo a mesma que pare nas maternidades, que amamenta e educa a prole e que na plenitude do seu corpo e sensualidade se faz bonita e está presente na cópula repartindo um prazer sem culpa. Almejando o companheirismo e não a supremacia dos sexos, ao mesmo tempo em que compete no mercado de trabalho, estimula no seu homem e companheiro as qualidades de poeta, de guerreiro e vencedor. Reconhecida como esteio vigoroso da sociedade, hoje, essa mulher inaugura em Montes Claros uma academia feminina de letras.
Muitos poderão perguntar: Por que feminina?
Sabe-se que toda academia de letras tem um número reduzido de participantes e que novos acadêmicos só ingressam nas mesmas na vaga deixada por algum acadêmico, geralmente por motivo de seu falecimento. Por isso muitos literatos qualificados, homens e mulheres perdem a oportunidade dessa participação. Ademais as primeiras academias de letras brasileiras eram exclusivamente masculinas, o que levou um grupo de mulheres intelectuais, que escreviam, a criarem uma academia feminina de letras.
A primeira em Belo Horizonte, depois outras. Convocadas e reunidas pela escritora, Yvone de Oliveira Silveira, Presidente da Academia montes-clarense de Letras, esta mulher que já se tornou um mito da cultura regional pela sua intelectualidade, elegância e simpatia cativante, 40 mulheres como as que descrevemos acima e que praticam a poesia e a prosa literária, mas que estavam distanciadas dos benefícios do incentivo e da divulgação no que se refere a essa específica arte, a literatura, resgatam esse espaço que há muito merecem e ampliam os horizontes das letras de Montes Claros.
Como participante, sinto-me honrada e comungo o propósito de traduzir o Belo, o Sublime e a “Verdade” na expressão da minha palavra.