Leitura sem censura: Wagner Black e a prisão de Guantánamo - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 23/10/2008 às 09:07.Atualizado em 15/11/2021 às 07:47.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



A provável vitória de Barack Obama  e a crise nos Estados Unidos, no Brasil as eleições municipais e a morte da princesa Eloá seguida da suspeita que seu pai esteja envolvido com o crime organizado. Estes e outros acontecimentos que prenderam os olhos do povo nos últimos dias fizeram com que um fato absurdo de truculência e falta de respeito ao ser humano acontecesse em  Montes Claros com a ciência de pouquíssimas pessoas. O roqueiro e comerciante de livros usados conhecido por Wagner Black passou 30 dias detido na prisão de  Guantánamo. 



O que causa ainda mais indignação é a fala do ministro das Relações Exteriores dizendo que tal arbitrariedade da polícia americana passou despercebidas das autoridades brasileiras, e que segundo ele será aberta sindicância para apuração dos fatos.



O tormento do montes-clarense arrojado que nutre a esperança de vender uma revista Veja da época da ditadura militar, que traz na capa a foto do general sanguinário Garrastazu por 50 mil reais, começou quando ele conheceu a atriz Déborah Secco em uma excursão feita ao Rio de Janeiro. Wagner havia pago dez prestações de 60 reais para conhecer Copacabana, com direito a jantar e café da manhã.



O destino fez com que o roqueiro se afastasse de uma turma do Major Prates que comia farofa de Maria Rosa na praia, para socorrer uma moça que fugia de um trombadinha com os seios nus. O rapaz, mais de olho nos peitos que no rosto da mulher, escorraçou o moleque com um golpe de capoeira que aprendeu na   Berimbau de Ouro. O encanto imediato foi brisa no sol escaldante da cidade maravilhosa, e  um longo beijo foi captado por papparazi que fotografavam alucinadamente a atriz global de topless se entregando ao homem que denunciou em canção que sua antiga namorada loura deu para Raimundo e até para Edmundo.



Vinte minutos depois estavam inflamados no terraço do apartamento da atriz, preparando-se para iniciarem o ritual canibalista, onde os dois se comem simultaneamente. Nesse instante em que  Black desejava que o mundo acabasse e se esquecesse que ele existe, dois helicópteros da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) pairam sobre o prédio e arrastam o montes-clarense ainda de membro hirto e voam sem deixar vestígios.



A Globo, ao saber do caso, proibiu qualquer tipo de noticiário envolvendo o fato, com receio da repercussão negativa para a atriz. Wagner, que fica sem cueca mas não tira a bandana da cabeça, foi confundido com um terrorista e, sob ordens do presidente George W. Bush, encaminhado para a prisão de Guantánamo.



Prisão militar estado-unidense, parte integrante da base naval da Baía de Guantánamo, incrustada na província homônima da Ilha de Cuba. O lugar abriga três campos de detenção e os piores maus tratos que um ser humano possa suportar. Nesses seis anos de inauguração, protestos pelo mundo inteiro são freqüentes, a favor da extinção do lugar. Lá se come torresmo com cocô de cachorro, se toma água nas botinas dos soldados e, o pior, a luz que ilumina os campos de detenção é gerada pelo gás Bufano, que os próprios prisioneiros precisam produzir.



Black foi confundido com o  mega terrorista Abdull Akulá, e  tomou choque embaixo das unhas, nas orelhas, no nariz e até foi arrastado com um corda amarrada no pênis. Tudo isso porque os americanos se irritavam com a voz do dono da Kazza do livro. Era perguntado em língua oriental e respondia em ocidental. Tudo parecia caminhar para o fim. Para a CIA era ele o homem que ajudou na destruição das torres gêmeas. Restava lembrar primeiramente de Deborah Seco; depois dos filhos a esposa, a banda, os livros, o rato de plástico de cima do balcão e, assim, nesta ordem, o último foi Irineu lá da Vila Tiradentes.



Porém, em louváveis segundos antes do gatilho ser apertado com o cano do fuzil a poucos metros da cabeça, chega a ordem para suspender a execução,  pois um carro bomba havia explodido a poucos metros de uma base militar em Cabul, capital do Afeganistão, e o motorista era Abdul Akulá. Black estava livre.



Hoje, passados vários dias, quer processar os Estados Unidos pelo equívoco e sonha um dia voltar ao Rio de Janeiro para os braços de sua amada, que ele chama carinhosamente de Debinha. O pior é se ela não se lembrar mais.

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