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Sábado,10 de Maio

Leitura sem censura: Síndrome de Mutley - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 11/08/2008 às 17:01.Atualizado em 15/11/2021 às 07:40.

Adilson Cardoso


adilson.airon@mail.com



Senhoras e senhores de todos os quatro cantos do Universo, sorriam! Tem ouro, prata e bronze pra todo mundo. Pobres miseráveis dos chiqueiros do subdesenvolvimento, é hora de se embrulhar na bandeira e torcer pelas medalhas. Está em jogo a soberania das nações. Parafraseando os Cassetas, seus problemas acabaram. Durante as olimpíadas estaremos em estado de utopia.



Que bom acordar de madrugada e ver belas mulheres em pleno vigor, com seus uniformes justos e seus olhares de Helena. Passar pelos portões pouco depois das seis da manhã e ver o barulho da família de mandriões acordada e torcendo. Ah, que maravilha conhecer a história da velocista Samia Yusuf Omar,da Somália, que conta que enquanto ela se prepara para largar nos 200 metros, pensa na sua mãe e seus seis irmãos  na pobre Mogadiscio saindo à procura de televisão para assisti-la! Diz ainda que adoraria que seu pai estivesse vivo para vê-la. Que mesmo com todas as dificuldades ainda existentes ela conseguiu estar ali.



Para Samia, que tem 17 anos e um corpo  físico bem inferior, o esporte a empurra para frente, com garra para vencer todos os obstáculos, pois suas adversárias são bem alimentadas com dietas balanceadas e acompanhamento de fisiologistas. Enquanto ela vive de mingau de arroz e pedaços de carne de bode ou camelo. Mas come o que tiver, e treina em um estádio que está em ruínas desde 1940.



São três horas todos os dias, mas o treino só começa após a atleta arrumar e levar os irmãos mais novos para a escola, pois a mãe tem que tomar conta da barraca de frutas de onde tira o sustento. E os Estados Unidos passeiam na quadra de basquete. A disputa vira show, lances mágicos de plasticidade sem igual nos fazem esquecer os assassinatos no Iraque, os presos de Guantánamo e até a cobiça da nossa Amazônia.



Russos  disparam mísseis contra a Geórgia,  Mederev e Putin não querem paz. Mas nos jogos olímpicos os ex-soviéticos querem medalhas e reforçam as artilharias, estão na briga dos primeiros com suas carabinas e suas pistolas de ar. Ainda têm a mortal Maria Sharapova, que hipnotiza os olhos do mundo.



A China escondeu os mendigos - conforme estatísticas, há cerca de 100 mil pedintes por toda Beijing -, para as olimpíadas foi construída uma série de cadeias em áreas remotas para exilar essas pessoas durante o evento. Esta exclusão não é privilégio apenas da terra de Mao, é norma de tais eventos que se incluem copas e pans.



Só para conhecermos um pouco mais, a China é o país do mundo com maior número de execuções por pena de morte. Com pouca abertura para as questões dos direitos humanos e ambientais, vive um sistema ambíguo, que é comunista em situações ligadas ao povo, como liberdade de expressão, e capitalista se beneficiando do liberalismo econômico.



Mas hoje está tudo bem, o gigante Yao Ming saúda o povo em nome do governo e os jogos continuam. Os elos que ligam os continentes estão cada vez mais sólidos, nem que seja por estes dias.



Aqui no Brasil não se fala mais em Abadia e Beira Mar, graças a Deus Larissa e Ana Paula estão em foco, Marta e seus dribles estão ajudando a torcida atleticana a esquecer que segunda é um dia depois de domingo. As Farcs estão em silêncio ou a mídia de Uribe não está dando atenção?  Chavez parece estar descansando a voz, enquanto o plebiscito na Bolívia causa temor ao índio Moralez.



Neste intervalo qualquer, problema é seu.



* Para quem não conhece, Mutley é o cachorrinho do desenho animado Esquadrilha maluca. Aliado do Dick Vigarista, que só presta qualquer ajuda mediante uma medalha...

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