Adilson Cardoso


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Após o fracasso do Brasil nas Olimpíadas de Pequim, onde a criatura Créu foi usada em velocidade máxima contra seu criador, estamos preparando as Olimpíadas de Pequi, com atletas de todos os arredores aqui das Gerais competindo em diversas modalidades. Já somos ouro na hospitalidade, na delícia da culinária e na visão bela que nosso céu expõe. Nosso povo arteiro esculpe a pedra bruta, talha a madeira  na singeleza de Tibúrcio, modela o barro no perfeccionismo de Walmir Alexandre e mistura as cores quentes e frias para matar a saudade do amigo Patão.

Temos orgulho de vestir a camisa de Montes Claros para lutar contra todas as arestas que vierem. Se faltar força, revitalizaremos com feijão-tropeiro e um suco de umbu. Se faltar coragem, descemos uma pinga goela abaixo e tudo se resolve. É assim que disputamos, desta forma não há juiz que nos tire o ouro das mãos, principalmente porque o  deles é metal e o nosso é comestível. Aos EUA será imposta nossa supremacia imediata. Nosso jeito maneiro de ser vai ensiná-los que, enquanto eles fazem psiu para calar as nações inermes, nós devolvemos Psiu poético para que todos falem nesta mesma língua.

O pódio aqui é nosso e quem manda somos nós. Jamais aceitaremos acordos com a Nike para deixar a marca em nosso peito, sem o escudo que nos representa. Nossas seleções de futebol feminino e masculino se deixaram vender por aquele bumerangue capitalista sem beleza alguma. É bom que todos tenham ciência da verdade absoluta que adotamos.

Nossos doidos continuarão aqui, não construiremos prisões para escondê-los, nossos loucos são artistas! Viva Reinaldo Barbosa e seu poema escatológico! Ricardo Salsicha e seu platonismo pela finada Maria Bicuda! Herbert e seus patinhos na parede! Eles são medalhas duplas: ouro pelo talento e prata da casa. É pena que nossa inteligência perca pontos importantes com tanto festival de axé, mas conseguimos uma virada boa com Palavras e idéias, Cinema comentado e o Papo-cabeça do colégio Redentor, descontraindo pelos bares claros violões e MPBs em números fantásticos, vozes que suavizam os roncos ignorantes das motos inabilitadas da Sanitária.

A disputa acirrada ficará por conta dos suínos  de Alto Belo sob as bênçãos do Téo, que sai em disparada, enquanto os porcos ingleses que mataram Jean Charles vão correr para não ouvir as palavras de ordem que ainda não esquecemos.

Ninguém nos tirará esta vitória, que será consolidada com o maior de todos os espetáculos, dois pares de algemas sendo usados para conduzir os assassinos de Igor Xavier para a cadeia, onde eles deveriam estar há muito tempo. E, se depender das nossas preces, Guantânamo será o destino final.

É ouro nosso pequi, é prata do nosso sertão.