Leitura sem censura: O nascimento de Heitor - por Adilson Cardoso

Jornal O Norte
Publicado em 24/11/2008 às 17:24.Atualizado em 15/11/2021 às 07:51.

Adilson Cardoso


 


Montes Claros abriu seus braços com carinho para receber seu mais novo príncipe, agraciado com o sopro da vida na sexta 21 de novembro deste violento 2008. Em homenagem a um dos maiores guerreiros da saga de Tróia e muito exaltado nos poemas épicos de Homero, nasceu Heitor do ventre da ex-dançarina do grupo baiano Compahia do Pagode, Maria Alice, e do músico Kerley, respeitado pagodeiro com passagens pelas bandas Só pra contrariar, dos irmãos Pires de Uberlândia, Só preto sem preconceito e Dicró.



Noticiado nas páginas da Folha de S. Paulo como o herdeiro da ginga baianeira, o pequeno Heitor veio com pinta de estrela, pois da natureza recebeu a dádiva da chuva que cai mansinho, fazendo brotar o verde que o sol escaldante engoliu. Lá fora, através da vidraça embaçada, nota-se o tempo calmo e o silêncio preciso, para que os anjos durmam, que a paz se fortaleça, deixando o riso de toda felicidade ficar no peito da mãe, que não cabe em si de tanto amor.



Os pesquisadores Fátima e Geraldo que, por acaso, são os avós maternos, estão há seis meses na Amazônia, estudando  a ação do Sant Daime nos povos indígenas. Autores do livro As drogas subentendidas, onde citam grande número de folhas, cipós e raízes que os índios sempre usaram como alucinógenos e hoje, com a invasão do homem branco à floresta, esses elementos começam a sair para ser usados nas cidades próximas, com objetivos totalmente contrários aos que foram secularmente empregados.



Com uma nefasta probabilidade de serem levados aos grandes centros, mandam avisar que embarcam no próximo vôo. E as comemorações vão seguindo já com a pretensão de fazer parte do Guiness Book. As caixas de cerveja empilhadas na área de lazer da casa já chegam perto das cinqüenta, Rosemeire e Tati vão no ritmo da música beber, cair e levantar, tamanha disposição das amigas de Maria Alice em dar a impressão de que foi dali daquelas entranhas excretoras de cerveja que Heitor nasceu. 



Mas, em meio a tanta alegria, um visível corte no sorriso do pai denuncia que algo parece estar faltando. O olhar em profundidade busca um horizonte perdido a milhares de anos luz. É que ali bem no maior dos infinitos sua mãe descansa na eternidade, e a  ela Kerlly dedica o maior de todos os seus sonhos: o nascimento de Heitor.



Em nome do grande criador de tudo que é vida e de todo o amor que se pode mensurar, e até dos imensuráveis, desejamos que esta felicidade de hoje seja uma pequena amostra daquele porvir. Que o guerreiro Heitor general do exército troiano venha mudar este quadro sangrento que os dias nos dispensam. Seja bem vindo a  nossa terra!

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