Adilson Cardoso

2007 se foi, sangrando pelas ventas e banhando seus dias com a violência dos tempos modernos. As drogas invadiram todos os cantos e todas as classes sociais, crianças armadas se confrontaram com seus vícios e foram sepultadas em escalas de horror, obedecendo fielmente à lista de extermínio gerada pelo mundo do tráfico. Foram diversos crimes bárbaros.

As capitais, famosas pelas chacinas, continuaram seus fluxos hediondos, escoando parte da sangria para as pequenas cidades, os distritos e até a zona rural. A droga ditou suas ordens, o poder público até que tentou, fazendo apreensões em residências, em festas, parando veículos e cavando as paredes das próprias penitenciárias. Porém, nas vísceras da lei, o tráfico foi irrigado, diversas detenções de policiais aconteceram em todo o país.

Os meninos do tráfico denunciaram que pagam à polícia para trabalhar sem perseguição nas bocas de fumo. A seguir veio o filme Tropa de elite, que também apontou essa ala bandida das corporações. E um vilipêndio à parte proporcionado por Marcos Camacho, vulgo Marcola, líder do PCC, que chamou de retrógrado os meios usados para conter a criminalidade, atestando que a tendência era o crescimento da bandidagem.

Os roubos se tornaram rotina para os camponeses, marginais em busca de facilidade para a prática do crime invadirem pequenas comunidades, levando na ânsia voraz tudo que encontrava pela frente. As pequenas agências bancárias foram alvo de diversas ações. O roubo, como a droga, também não se restringiu a uma só classe meliante, destacou-se principalmente entre os políticos, inúmeras cassações registradas, com participação especial de figurões do congresso e do senado federal, eufemizando o verbo. Foi um ano em que diversos recém-nascidos foram vitimas da insanidade dos próprios pais, jogados em lagoas, deixados em latas de lixo, atirados pelas janelas e mortos por asfixia, também houve caso de bebê-escudo que fora assassinado junto ao pai.

O caso do menino João Hélio, no Rio de Janeiro, arrastado por aproximadamente 7 Km preso a um cinto de segurança, chocou a todos nós que ainda acreditam na paz. Choramos com o retrato dessa bola azul abraçados bem juntinhos, perguntando para onde estávamos indo. Porém, ao estancar o choro, recebemos a notícia da morte do pequeno Sidney com uma dose de crueldade do mesmo nível carioca.

Registrou-se também um alto índice de prostituição infantil, filhas usadas com o consentimento dos pais, ou até mesmo participando de orgias no sagrado lar, e a internet se aliou à pedofilia. Uma adolescente de 15 anos é jogada numa cela em Abaetuba - PA, e ali ficou por vários dias alimentando as perversões sexuais dos marginais. 

O Brasil brilhou no PAN, foram tantas as medalhas que a imprensa se esqueceu de noticiar que as favelas continuavam em atividade, mesmo com as entradas do Caveirão duas vezes ao dia, o milagre de nada acontecer no mundo do crime durante esses dias, talvez só se repita na Copa do Mundo de 2014.

Montes Claros, depois de muitos anos longe do futebol profissional, reacendeu as esperanças com o Funorte Esporte Clube, uma pena que o time não foi até onde os torcedores sonhavam que fosse, devido à limitação de alguns jogadores para uma divisão de acesso como essa.

A cultura perdeu o mestre Nenzinho, o Marujo incansável que se entregou à devoção até os últimos dias. Sofremos também a perda do cantor Jorge Santos, que deixou nossa MPB desfalcada de sua voz e seu talento imensurável. O prefeito rachou com seus aliados, mataram o programa Segundo tempo. Ricos e pobres foram separados no carnaval temporão, quem pode pagar tem segurança, quem não pode que se f...

Até que enfim a licitação para o transporte coletivo saiu e para, grande surpresa, Alprino e Transnorte continuam, e o povo também continua esperando horas nos pontos de ônibus, nos sábados, domingos e feriados, submetendo-se a ficar na espera e o dito não passar. Ainda no pacote de mal-dizeres, vem um aumento por aí.

Porém, não foi só desgraça no ano que se passou. Foi inaugurado o Centro de especialidades médicas do Hospital Universitário 100% Sus, uma grande conquista para o povo de Montes Claros e região. Eltomar Santoro está bebendo menos e mudou-se para as bandas do Renascença, e o Brasil conheceu o Parangolivro do poeta Aroldo Pereira. E muitas coisas mais provocaram nossa fúria, nosso riso, nossas lágrimas e nossas surpresas, fazendo parte desse planeta sofrido pelas ações de nós mesmos. Agradecemos por termos vencido os obstáculos impostos. Um pequeno refrão da música símbolo dessa transição abre o clarão dos novos dias que queremos.

Neste ano quero paz no meu coração, quem quiser ter um amigo que me dê a mão...

Assim, de mãos dadas, construiremos o nosso mundo, onde ter paz seja obrigação de todos.