Adilson Cardoso
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Ontem (22/09/08) foi o aniversário do Guga, duas décadas mais dois anos, uma imensurável felicidade estaria permeando este início de primavera se Deus não o tivesse escolhido para fazer parte do seu coro de anjos há um ano e sete meses. Ele correu feito os ventos se envolvendo nas campinas, saltando riachos e se precipitando por penhascos e fendas das montanhas, saltou livre sem temores com suas perninhas ágeis de quem não teme a liberdade, sorveu cada instante que a efemeridade daqueles dias pôde lhe proporcionar até os bem vividos sete aninhos. Porém, como o sol que muda das cores vivas para o ciano depressivo da tempestade um dia Guga caiu, e infelizmente esta queda veio denunciar que ali o mundo começava a sua implosão, como selvagens dinamites destroçando toda a parede de sustentação daqueles pais que ouviam sob a orientação do desespero dantesco, a voz cabal do discípulo de hipócrates, que fez um dia seu juramento de cuidar da vida em toda sua extensão, de promover a saúde e procurar fazer o impossível para que haja a universalidade e que todos vivam, mas friamente disse apenas não ter jeito , que a hipertrofia deixaria o filho de Irvana e Magela sem os seus passinhos de garoto sadio que ama tanto a vida. Ainda que era questão de tempo, mas que tempo meu Deus chorava o pai copiosamente com uma taquicardia que lhe furtava a respiração, uma dor tão intensa que o gosto da morte parecia doce nos lábios amargurados que tremiam em desalinho. Mas foi este mesmo tempo que deu forças e luz nos caminhos dos genitores que não perderam as esperanças, da medicina tradicional que a razão ampara aos cultos que a emoção atiça, nas aparições que se revelavam como milagres em qualquer canto do Brasil, lá estava Guga acompanhado dos pais e do seu sorriso otimista que lhe garantia sonhar como qualquer outra pessoa que não pensa em ir embora tão cedo, construindo seus barcos objetivos para flutuar nos mares revoltos vencendo e perdendo mas sem se deixar abater por qualquer que seja o motivo.
Quando chegou o tempo em que todos temiam, Guga não se despiu da luz que irradiava e levantou a cabeça de todos ainda que suas pernas não lhe permitiram o mesmo, e o tempo não ficou quieto foi se dirigindo na auto-estrada da vida nos conduzindo aos desafios, aos enfrentamentos que são normais nesta velocidade inconseqüente, até que chegou a hora do Guga deixar este plano, meigo e sereno como sempre nada pediu a ninguém, se calando numa quarta-feira de jogo televisonado com suas estrelas vencedoras de cruzeirense apaixonado, deixou as fotos tiradas ao lado do ex-técnico Luiz Felipe Scollare e do ídolo Sorin realizando seu sonho de conhecer a toca da raposa. A mãe fala com voz embargada de saudosismo extremo, dizendo que tudo que podia ser feito, não houve poupança de esforços. Acrescenta que a mensagem mais bonita deixada pelo filho foi a de otimismo sem se entregar em nenhum momento, mesmo quando se notava as maiores dificuldades. O pai Magela se banha em lágrimas ao lembrar do companheiro que acordava de madrugada todos os domingos, com a disposição de quem é atleta apenas para vê-lo fazer suas defesas no gol e comentar depois lá no barzinho da Baixinha onde é a confraternização pós-pelada, o homem pássaro que voa literalmente para defender as bolas, vaga agora como zumbi pelas noites de céu estrelado, olhando para o firmamento e sentindo o sorriso que só ele sabe interpretar no meio de tantas outras estrelas. Como era feito antes no aniversário de Guga, estão todos juntos, os pais e as irmãs Daiane e Daniele, que no calor do abraço apertado cantam como oração ao mais encantado aquele que é tão amado que se bipartiu em matéria e espírito. A matéria está depositada numa sepultura coberta de flores, mas seu espírito está cada dia mais vivo dentro dos nossos corações . Valeu Guga, eternamente te amamos!!!