Adilson Cardoso


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Em descontraída viagem por estes aprazíveis lugarejos do nosso Norte das Minas, vi montanhas majestosas, serras violetas e muita vegetação exuberante, gente simples e amável que sorri sem fingimento e abraça com calor. Tudo isto bem pertinho de nós, a poucas horas, sem precisar correr muito. Mas, como nada é só  perfeição, lá tinha um candidato a vereança que concorre às cadeiras daqui que, se depender de estilo, já ganhou.

Bigodão de coronel, chapéu de coronel e botas com esporas de quem tiver dinheiro para comprar. Chamou-me a atenção uma carta-panfleto que esse dito cujo entregou em mãos a todos que se encontravam ali. Tratava-se de uma resposta a alguém que o acusa de roubo de uma porca que era engordada para a festa de Nossa Senhora Aparecida. Texto, na integra:

- Sinhoras, sinhores inté as criança, pricisa de por sintido nu que ieu falo nessa indiguinada carta, que florinha minha fia que graças a Deus formô agora cum muitia dificulidadi iscrevêu pra min, mode que em  respeitio aos meus eleitor ieu mesmo num iscrivi por que num sô muitio bom nas letra, falá inté que eu dou  meus coice. As pessoa que min acusa de roubar a porca num tem cumu prová, num tenho vergonha ninhuma di falá que quando eu era rapazoti  já fiz muitia marvadeza, cumia as cabrita na forquia do pé de cajù amarelo que tinha lá em casa, e já inté roubei ovo da galinha de Dona Beata, mais já pidi perdão a Deus e minha consciença tá tranquila. Sô pai de sete fí, treis é muié e quatro é homi.Todos muitio esforçado e trabaiadô, só Geraldin o do mei que anda fazendo gente passá contrariedade, vistino de muié e inté passano batom, mais seu Natalino de Mulungú falõ que num carece de precupá mode que ele tá é cum pomba-gira, foi  morá em  Montes Claro mode tratá,  lá tem recurso pra isso. Num quiria contá,  mais pros meus eleitor ieu num iscondo nada  tem gente da oposição falano que viu Geraldin  vistido de mini-saia em cima de  um Caminhão numa avenida da cidade, falõ inté que era uma tar de parada de Gay,ieu afirmo que  é mintira! ieu põe minhas mão nas brasa,  meu fí é macho si num é a disgraça da pomba-gira o trem era de ferver. Mais o mutivo é a Porca  que ieu num roubei e tão min caluniano, mode quê ieu ia tê pricisão de roubar? si lá em casa tem uma, é a porca da minha muié que tá tão gorda que os quarto rasta no chão. Cês num acha que Nossa Sinhora já tinha min fazido cagá duro se fossêu, oia gente num  roubo nem bandêra de São Jõao, mode num iscuta nome de ladrão , inda mais porco de festa de santo que dá um azá do capeta. Tenha dó!   vai minti assim no mei do zinferno trem. Mais ocês pode ficá tranquilo meus eleitô, hoje eles tão meteno ne min amanhã quando a verdade aparicê  ieu que vô metê neles, e de cum força mode que ieu sõ homi de palavra.Gradeço o apoio de tuca de manezim, Graça de  joão cuzim, m


aria de zé-do-fole, Fisliberto de fatinha peida nagua,  e os cumercianti de lapa dos corno que dá pinga de graça aos trabaiadô que vai votá ne ieu. Pá incerrá ieu falo mais uma vez, ieu num roubei disgrama de  porca ninhuma, pelo premêro  leite que mamei na minha mãe.

Esta ditribuição de desabafos ocorreu as 11horas da manhã e as 17 horas o candidato já estava embriagado cantando e dançando as musicas caipiras que dois violeiros Montes Clarenses do Alto São João tocavam com maestria. Sorrindo com um copo na mão ele confidenciou a alguém que estava ao lado, “Foi ieu mesmo que mandei pegar a porca, oia o tanto de voto que rendeu cê que num sabe, já tô trenano!! “. Os dois sorriram e continuaram a beber. E um autêntica raiz sou  ilustrado o momento “ A coisa tá feia, a coisa tá preta quem não for filho de Deus, tá unha do capêta” e chora viola. Só para não esquecer, quem votar no ladrão de porco ganha o brinde nepotista da filhinha analfabeta.