Adilson Cardoso
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No próximo domingo, 29, encerram-se as atividades do Uniarte na cidade de Capitão Enéas, que também conta com participação de alguns distritos, dentre eles Caçarema. Nos ensaios para a apresentação final é notável a ansiedade das crianças para mostrar o que aprenderam do lugar onde moram, estas que, segundo dona Ceci, a assistente social que conhece a fundo a problemática de cada um desse povo, estão renascendo com uma nova visão.
Adolescentes interpretando com orgulho os causos que seus avós contaram, do folclore que povoa o imaginário e que estava sendo perdido no meio de tanta tecnologia da informação. E que, por falta de um filtro, aprendem o que devem e também o que não deveriam. Sentirem-se orgulhosos do passado e daqueles que ainda vivem ocultos nos seus vários janeiros é um dos pontos fundamentais para o resgate desse tesouro arqueológico.
O chalé do Capitão desabou, quem não teve oportunidade de vê-lo oponente, sem muita criatividade na construção, porém de imensurável valor afetivo e histórico, tem esse privilégio no óleo sobre tela do artista Luiz Antônio. Segundo moradores do Sapé, a casa não caiu sozinha, alguém a derrubou com medo do tombamento pelo patrimônio histórico. Não convém prolongar assunto acerca da questão, ainda que seja um crime contra a história do visionário que acreditou naquilo que sonhava e lutou deixando o legado das suas conquistas.
Deixemos a discussão para aqueles que, a partir de agora, vão continuar as buscas para o entendimento histórico-cultural da antiga Burarama. Quem ainda tiver alguma dúvida sobre o que dissemos vá falar com dona Zezé, porém, só não deixe que a prosa atrapalhe a oração do meio dia. Ou puxe uma cadeira ali na porta mesmo do bar do seu Pedro Ceará, para esquentar um solzinho e conversar sobre o tempo que ficou lá longe. Só não pergunte se teve aparição de defunto por ali, lorota não é com ele não.
João Tolo, que da alcunha pejorativa não tem nada, continua pelas ruas pedindo dinheiro para comer e tomando cachaça, até ficar tão bêbado a ponto de sair torto babando pelas avenidas largas.
E viva Santo Antônio, que realizou o sonho de dona Maria, no calor dos braços de seu José. Ela agradece aos céus e reza o terço em devoção, prometendo que enquanto viver a data será sempre festejado. Viva o senhor São João, a bandeira vem chegando lá na casa de seu Joaquim, sob os sons de sanfona, pandeiro, triângulo e zabumba, orquestrados por um ladrão que se assume na cantiga, dizendo:
- Ô seu festeiro, saia fora e venha ver sua bandeira que o ladrão vem trazer.
Mas esse ladrão é benvindo, pois entra e sai sem nada tirar do seu festeiro, com exceção da filha. Se tiver o remelexo e não fugir do bate-coxa apenas para dançar. E São Pedro, que encerra as festas juninas com a esperança de que volte no ano que e encontre todos com paz e saúde, em nome do pai do filho e do espírito santo, amém.
Seu Genaro termina limpando os olhos com um lenço branco tirado da algibeira. Bem, estamos em um ano político salutar para todo planejamento estratégico. Acreditamos que essa que rege Capitão Enéas entendeu o trabalho e fará fusão de todas as forças, para que a idéia continue viva dentro da população, sendo praticada e pensada numa linha de horizonte bem além de qualquer pretensão pessoal.
Torcemos para que, independente de quem esteja na câmara municipal e na cadeira do executivo, seja de que partido for, pense no povo, nas crianças que ainda acreditamos ser o futuro se forem lembradas como na frase de Pitágoras: Educar as crianças para não ser preciso castigar os homens. Nos adolescentes que são apresentados a um universo de experimentações e disputas interiores e exteriores, que algumas vezes chegam ao nocivo contato com as drogas, com a prostituição e outras mazelas existentes. Fazer com que a arte seja transformadora no seu sentido literal, abrindo espaços para a sensibilidade e para o mundo que encena que canta, que dança, que pinta sem medo de ser feliz, como numa frase do livrinho infantil que meu pitucho Airon tanto gosta: O Rei que quase virou bobo da corte.
Se é para ser feliz, que seja feliz para sempre. E viva o povo de Capitão de Enéas!