Adilson Cardoso
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No ano de 1974 durante conferência mundial sobre alimentação, ficou estabelecido pelas nações unidas que todo homem, mulher e criança teriam o direito inalienável de se alimentarem e não se desnutrirem. Porém, o tempo passou e a fome não diminuiu, mesmo com tantas metas estabelecidas e retóricas de países ricos nos seus momentos de assistencialismo.
Os 854 milhões de miseráveis que passavam fome já são mais de 950 milhões, com pelo menos 800 milhões de pessoas desnutridas em todo mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a agricultura e a fome.
Um terço das crianças dos países em desenvolvimento apresenta algum tipo de atraso físico ou intelectual; 11 milhões dessas pequenas criaturas morrem a cada dia de fome em todo o mundo, e 40% das mulheres desses países se encontram anêmicas e abaixo do peso. Diante destes números alarmantes e vergonhosos muitas indagações nos invadem, como por exemplo se o planeta não está conseguindo produzir o suficiente para matar a fome.
Segundo a ONU temos muitas terras férteis, que são cultivadas para alimentação de países ricos, portanto, temos recursos suficientes sim para alimentar a humanidade inteira, se houver um planejamento adequado onde se pense a igualdade de distribuição, o que produz, como e para quem. Assim estará se iniciando de verdade o combate à fome no mundo.
No Brasil são 20 milhões de pessoas convivendo com a fome e a desnutrição, sendo o 9° país com fome no mundo, 8% da população consumindo alimentos em qualidade e quantidade insuficientes, 20% da população vivendo com menos de 4 reais por dia.
Vivemos uma época de terríveis paradoxos. Se por um lado aumentaram-se as mobilizações da sociedade civil a favor da causa, com implantação de diversas políticas públicas, ainda persiste a maldição da desigualdade. Nos últimos anos a produção agrícola cresceu de 12 para 99%. A fome em escala maior subiu de 10 para 20 milhões de miseráveis. A produção de carnes (bovinos, suínos e aves) aumentou consideravelmente, enquanto que das pessoas que não passam fome por ter o arroz e o feijão regularmente na mesa, a maioria diz comer carne apenas de vez em quando.
Dados estatísticos revelam que no Brasil a fome acontece também por conta do desperdício. Mesmo com toda concentração de renda secular produzindo tanta desigualdade, se houvesse política do não desperdício, a alimentação que vai para a boca do lixo iria parar na boca do desgraçado que não tem a mínima condição de sustentar-se.
Todos os dias 40 mil toneladas de alimentos são jogados fora, em restaurantes, feiras, quitandas, açougues, mercearias e nos refeitórios de fábricas, hospitais etc. Já presenciei funcionários de uma instituição que oferece alimentação de graça para os que fazem plantão de doze horas, pedir a comida e comer metade jogando a outra no descarte de resíduos orgânicos.
Uma revista de circulação nacional deu destaque no mês passado a um cruzeiro pelas maravilhosas belezas naturais do nosso país. Por sete dias os abastados passageiros desperdiçaram o suficiente para alimentar por dois dias 200 famílias do sertão nordestino, aquelas mesmas que comem calangos, lagartixas e até baratas para não morrer de fome. Aos números não se acrescem os desperdícios residenciais, aqueles que diariamente o caminhão do lixo recolhe nas portas, o que mais uma vez provoca o contra-senso, pois na mesma porta também diariamente passam pessoas pedindo um bocado de comida pelo amor de Deus.
Façamos nossa parte. Salve o planeta, salve a vida!