Itamaury Teles *
Em mensagem eletrônica ao jornal O Norte, concita-me o conterrâneo Dílson Pereira a decifrar a inscrição latina contida nas fraldas do brasão do município de Porteirinha.
Segundo o conterrâneo, a frase é, “mais ou menos”, “perflorea pura excet labor”. E de lá da nossa querida cidade, que identifica como “República Única e Soberana do Brasil”, pede-me para verificar qual é mesmo a expressão latina e qual a tradução dela para o português.
Poderia simplesmente responder ao Dílson Pereira – esse porteirinhense que nos orgulha pela cultura erudita e pelos embates consistentes nas páginas dos mais destacados jornais pátrios – que procurasse o advogado Antônio Getúlio Rodrigues de Carvalho, em Janaúba, idealizador do referido brasão, quando ocupou a presidência da Câmara de Vereadores em Porteirinha, na década de 1970. Algo assim como “quem pariu Mateus que o embale”.
Mas não é da minha índole fazer isso, principalmente quando posso contribuir de alguma forma, com meus parcos conhecimentos dessa língua morta.
Mesmo que o editor de O Norte, meu preclaro e inefável amigo Reginauro Silva, tenha encimado o texto do Dílson Pereira com o título de SAIA JUSTA. Assim, tão-logo li a mensagem, pus-me a pesquisar em meus alfarrábios latinos: nos meus livros de brocardos jurídicos; nas apostilas do Professor Jésus, da minha querida Faculdade de Direito Milton Campos; e nos livros de latim, que meus filhos estudaram no Colégio Loyola. Debalde.
Outro complicador: estando longe de Montes Claros, onde poderia beber da sapiência latina do meu confrade Padre Murta, vi-me na contingência de trocar idéias com amigos ex-seminaristas, na minha caminhada matinal no entorno da praça da Assembléia, em busca de solução para o perspicaz questionamento.
E foi nesse deambular peripatético, proseando com o Márcio Roberto Vieira - do alto de seus 1 metro e 90 centímetros e dos seus 120 quilos de pura cultura clássica -, que pudemos chegar ao provável dístico do brasão porteirinhense.
Feito todo esse intróito, arriscamo-nos a dizer estar com alguma incorreção a frase latina citada, porquanto de tradução sem sentido. Mas, apenas para não perder a embocadura, “quandoque bonus dormitat Homerus” (Até o bom Homero, às vezes, cochila...).
A frase correta, em nosso modesto entender, seria “PERFLORET PURA EXCEPIT LABOR”, traduzível por “cobre-se de flores apenas quem trabalha honestamente”. No mesmo sentido, cobre-se de flores – ou dos louros da vitória - somente quem trabalha de forma pura, sem manchas ou máculas em sua conduta pessoal.
Como se vê, a frase contém assertiva moral, de amplo espectro pedagógico, que muito se ajusta à retidão de conduta dos cidadãos porteirinhenses, que, por isso mesmo, costumam obter sucesso no campo profissional.
Espero, assim, ter atendido ao nobre conterrâneo Dílson Pereira - que pretendo conhecer pessoalmente, em futuro próximo -, e ter saído, com louvor, da tremenda saia justa a que me impôs o Reginauro.
Todavia, a solução ficaria “sub judice”, para uma manifestação mais abalizada do Padre Murta, um reconhecido consultor do Vaticano para assuntos que tais.
* Escritor e jornalista