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Sexta-Feira,4 de Julho

La nonna - por Felippe Prates

Jornal O Norte
Publicado em 14/07/2008 às 10:38.Atualizado em 15/11/2021 às 07:38.

Felippe Prates



Como é do seu conhecimento, querida leitora, “nonna”, em italiano, significa “avó”.  Hoje vamos lhe contar a divertida história de uma “nonna”, uma maravilhosa avó italiana que, pela sua forte personalidade e muita opinião, fixou indelévelmente sua imagem na nossa lembrança.



Antônio Turano é um bom amigo, nosso colega de sala durante os cursos ginasial e científico, no Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria, administrado pelos padres Barnabitas, onde estudamos e que  ainda funciona no bairro do Catete, no Rio de Janeiro.



Como lhe garante o sobrenome, Turano é de origem italiana, filho de pais italianos que emigraram para o Brasil, radicando-se no Rio e dedicando-se à distribuição de jornais e revistas, uma atividade até hoje quase exclusivamente exercida pelos conterrâneos da família de nosso amigo.



Chegou o dia de irmos estudar na casa do Turano.  Um hábito comum naquele tempo, os amigos se visitavam com freqüência e estudavam juntos.  Era a primeira vez que íamos à casa do Turano.  Muito gentil e educado, tão logo chegamos ele nos mostrou sua casa, muito grande e bem montada,  apresentando-nos às pessoas presentes, seus parentes. Até que chegamos na cozinha.  Lá estava a avó do Turano, dona Annunciatta, bastante idosa, fritando doces de delicioso aroma.  Ela só falava italiano e o Turano abrindo a porta falou para avó, que estava de costas, virada para o fogão:



- Nonna!  Esto és mio caro amico Felippe, chi io he parlato con affezione, capice? (Vovó!  Este é o meu caro amigo Felippe, sobre quem falei com afeição, simpatia, sabe?)



A “nonna” nem olhou para ver quem nós eramos.  De costas estava, de costas permaneceu e agitando sobre a cabeça uma enorme escumadeira num movimento de negação, disse:



- No, no!  No voglio conoscere !  Soi molto vecchia, no voglio conoscere  ninsumo adesso pio... no ricordaré su nome...No, no! (Não, não!  Não quero conhecer!  Sou muito velha, não quero conhecer mais ninguém...Não vou me lembrar do nome dele...Não, não!)



As “nonnas” italianas costumam ser malcriadas, blasfemam e xingam nomes feios. Antes que a avó possivelmente partisse para os desaforos, Turano fechou a porta da cozinha, “roxo” de vergonha.  Surpreendeu-se quando nos viu batendo palmas, alegres, homenageando aquela velha ótima.



- Peço-lhe desculpas, Felippe.  A “nonna” tem dessas coisas... Acho que está esclerosada.



- Desculpas de quê, Turano!  Estamos festejando a autenticidade, a sinceridade da “nonna”, coisa tão difícil de se encontrar... Ela é ótima e está coberta de razão. Tem todo o direito de dar por encerrado o seu ciclo de relações, principalmente gente nova, novos conhecimentos, que na verdade nada lhe acrescentariam a essa altura da vida. Simplesmente não quer conhecer mais ninguém!  Seja Felippe, Einstein, fulano ou beltrano! Não vai mesmo se lembrar de novos nomes, nem de quem quer que seja.  Pois saiba que nós adoramos sua “nonna”e nos declaramos seus ardorosos fãs. Trata-se de uma mulher notável e dela sempre nos lembraremos com muita admiração, pelo fato de acreditar na sua verdade e exercê-la, doa em quem doer, coisa que muita gente boa sonha em fazer, mas lhe falta a coragem.



Até hoje, passados mais de cinqüenta anos, o Turano ainda morre de vergonha dessa história, tão diferente, original.  A tal ponto, que paramos de contá-la em sua presença. Pura tolice do amigo.

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