Encontro-me com o jovem professor Romano Maestro. Cobrou com veemência minha eventual alienação diante de fatos cotidianos. Tenho sido poético, comenta. Acredita o professor que deve ser cáustico o cronista, denunciar, mostrar à população o que se faz em nosso nome vão. Mesmo que pareça picuinha, assegura o professor, ainda assim é dever deste enfadonho ledor de coisinhas não se afastar da realidade. Mesmo que me chame a poesia para o seu colinho fofo, ainda assim é preciso azeitar a metralhadora e disparar contra as ratazanas.
Necessário é ler a angústia da gente, a gente aviltada, levada a rodo na algazarra do poder. Não é possível a quem escreve esquivar-se da dor do mundo, diz o jovem de cabelos desalinhados. Fato é a explosão das bombas no Oriente, a dilaceração dos inocentes em Bagdá. Fato é a morte de Pinochet, fato é fome, fato é o avanço do vírus e tão formidável fato é a derrocada moral do país, a mentira formal, o disfarce, a máscara.
Novas e velhas caras lavadas prontas para cometer contra a pátria a vilania da falsidade. Sob o ponto de vista dos que nos tentam enganar, destes falsos que inventam histórias e finais de história, somos todos uns otários, bobos capazes de comprar qualquer enredo. Riem cínicos e olham por cima, desdenham. É triste professor, muito triste tudo isso. E por mais que eu me esquive não há como livrar-se da indignação, da ira, da santa ira que tonteia, rompe e desajuíza. Assim, não é mesmo sensato, amigo, que nos calemos.
Devo, devemos todos, minimamente responsáveis, não recuar, não transigir. Repetir, repisar, andar sobre as mesmas pegadas para que os cidadãos brasileiros, todos e os mais enevoados, possam se manter atentos, alertas, com todas as luzes acesas em todos os cômodos da alma.
É mesmo irrevogável reagir. Mesmo que eu seja uma palavra apenas, por ela é que sei. Nela é que acredito. Uma palavra é bala, é lâmina. Uma palavra verte e subverte, incendeia e apaga, anula e supre, mergulha e bóia. Eu bem o sei Romano, por isso dela não me aparto e se empunho faço um corte, ou um filho.
Não me esquecerei, pois, da recomendação e ainda que nem pareça, direi sempre que estão surrupiando. Não por nos roubarem bens de moeda, ou prata, ou ouro, mas por nos roubarem exemplos e sonhos, por estarem por aí estes insolentes ensinando aos meninos que mentir é meio e às vezes vale.
Que a mentira é uma estrada de andar e que à margem dela há paisagens que não são de secura e medo. Assim jovem professor Romano em atenção à lúcida e cívica reprimenda, fico aqui inviolado e pronto para rudezas.
Se depender de mim, de nós dois pelos menos, de tantos que como nós costumam se enfurecer, os canalhas não farão chacota, não farão do país um balcão, não farão da mentira um instrumento de burla e lisonja. Aos mentirosos a algema. Celas e catre para os crápulas. Pequena, esta é a minha contribuição e se a palavra for pena, que puna. No mais permaneço carregando pequenos buquês/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"right">goialima@terra.com.br