Adilson Cardoso *
O jornal eletrônico montesclaros.com publicou neste dia 22/08 duas mensagens que, creio eu, deixaram muita gente que luta para a preservação das tradições artístico-culturais da cidade com um ferimento bastante doloroso. Trata-se de um casal que, por infelicidade, assinou como residente em nossa Montes Claros. O primeiro diz lamentar que uma cidade que necessita de crescimento sustentável viva à mercê de festas, e pergunta o que fazem aqueles homens, mulheres e jovens desfilando em plena 10 horas da manhã pelas ruas da cidade. Finaliza: “Vamos comemorar o quê?” E conclui: “A miséria”.
A segunda, seguindo a linha exorbitante e incongruente do primeiro, começa com uma interrogação: “E então, já acabaram as festas de agosto? Ô atraso de vida! É por estas e outras que Montes Claros não avança, não se desenvolve, vive presa a crendices. Quanto atraso, meu Deus!
E conclui: “Quanta visão fechada”.
Ao aproveitar este espaço que democraticamente O Norte nos cede, quero falar em nome de milhares de leitores deste jornal que também se indignaram ao ler e foram censurados como eu ao dar suas opiniões naquele informativo eletrônico. Ao primeiro, é difícil entender mesmo aquele desfile, com tantas cores, tanta alegria, em um horário daquele numa cidade onde há tanta violência e tanto desemprego. Mas esse desfile, meu caro, tem quase duzentos anos. Por isso você não entendeu, são muitas gerações caminhando para sustentar a força dessas tradições, com todas as dificuldades possíveis, inclusive a que enfrentou o mestre Tim, que substituiu seu pai à frente da marujada, o lendário mestre Nenzinho, falecido há poucos dias. E a miséria, como você conclui, está arraigada na alma daquele que padece da incurável patologia da inércia.
Quanto à segunda, que já foi alvo de alguns comentários no próprio veículo, digo: pode ser atraso de vida, sim, estar sustentado algo tão bonito e tão importante para a cultura de um povo. Na visão de alguém que faz uma crítica vazia daquilo que nem ao menos sabe o que é, que se refere às festas de agosto como crendices sem se preocupar com o valor cultural e identificador das manifestações dessa gente, esperamos que os dois reflitam e, no canto que sobra na reduzida caixa cefálica, produzam a partir de agora algo que possa contribuir com aquele espaço que tem como objetivo informar, senão entreter com causos e contos. E que a direção do informativo eletrônico reveja as censuras aplicadas em mensagens que possuem teor mais coletivo, e ofensas como essas citadas sejam literalmente descartadas.
* Aprendiz de escritor, acadêmico de Artes Visuais da Unimontes