Instrumento de violência debaixo do colchão

Jornal O Norte
Publicado em 14/04/2009 às 08:50.Atualizado em 15/11/2021 às 06:56.

José Prates



“A dona de casa Maria das Graças Lopes Cardoso, 45 anos, encontrou algo que não esperava enquanto limpava a sua casa. A mulher chamou a polícia depois de encontrar uma arma de baixo do colchão do filho. O fato aconteceu no Bairro Village do Lago.”


 


É uma notícia incomum que O NORTE publica, mostrando o cuidado de uma mãe que apreensiva, chama a polícia, quando encontra uma arma pesada escondida pelo filho, em sua casa.  O incomum não é o fato da arma escondida, mas, a disposição da mãe em denunciar o próprio filho a policia. Dificilmente tal aconteceria nos morros do Rio de Janeiro ou na periferia de qualquer outro grande centro, onde o povo não tivesse em sua procedência, a honestidade que caracteriza o sertanejo norte mineiro.



O que chama mais a atenção aos que estão residindo fora de Montes Claros é o crescimento da violência urbana, com o que não estavam acostumados, nem podiam imaginar que um dia, tal viesse acontecer. A violência está recrudescendo em todos os grandes centros e atingindo, agora, os pequenos centros urbanos. Dizem alguns estudiosos que o desenvolvimento técnico-industrial e econômico que o país atingiu nos últimos anos, marginalizou boa parte da população que não foi preparada para esse fenômeno.   O mercado de trabalho está aberto para pessoas preparadas e os despreparados, sem recursos técnicos, buscam por qualquer maneira, recursos para sobrevivência. Nasce ai, a violência que contamina principalmente a juventude pobre, que não teve recursos nem assistência para se preparar para o Brasil de hoje.



O que nos entristece com tudo isto, é constatar que Montes Claros deixou de ser a cidade romântica, com ruas cheias de poesias, como a Dr. Santos  do bar de Manoel Cândido e Hotel São Luiz; do barzinho gostoso de Adail Sarmento, com seu café gostoso e seu lanche apetitoso. Hoje Montes Claros é um centro industrial, uma metrópole com quase quatrocentas mil almas, com foros de capital, aonde a violência chegou com o desenvolvimento econômico que gerou o crescimento demográfico. Que diferença da pacata Montes Claros dos idos anos 50 quando a ocorrência de um assassinato era alarme geral, com a noticia correndo a cidade de boca em boca, por ser um fato extraordinário. Polícia existia, não como hoje com guardas postados nas ruas; viaturas e helicópteros nas diligências; policia civil no trabalho de inteligência. Alguns comentaristas afirmam que a segurança ao cidadão não acompanhou o processo evolutivo dos grandes centros. Não é esse o fato. A questão é que nos grandes centros, pessoas que chegam à marginalidade da lei, integrando-se à violência são distribuídas de maneira a dificultar a ação policial. O que acontece hoje em dia em Montes Claros e que a imprensa local  nos informa em nada é diferente dos demais grandes centros e não pode ser comparado com a Montes Claros tranqüila do tempo saudoso do Cel. Coelho, do “tira” Altininho e do soldado Zé Idálio. Naquele tempo violência não era conhecida, nem por ouvir dizer.



Não estamos aqui querendo afirmar que a violência desfigurou Montes Claros e que não seja a cidade bela e romântica, apesar da modernidade que lhe atingiu. Queremos mostrar como o cidadão montesclarense que vive distante, tendo como contato, apenas, as notícias que lhes chegam pela imprensa, imaginam o Montes Claros atual. O jornal de hoje, por exemplo, nos diz que Um caminhão usado para entrega de bebidas em Montes Claros foi assaltado no final da tarde de segunda-feira, 06. O motorista Wilson Gonçalves de Oliveira, 48 anos, parou o veículo na Rua Plínio Ribeiro, Bairro Jardim Brasil, momento em que um homem armado anunciou o assalto. O suspeito roubou R$ 380, e fugiu a pé. Noticia de canto de página, como coisa rotineira. Temos, porém, de levar em conta que essas ações criminosas  que se avolumam nos grandes centros e Montes Claros não é exceção, é o efeito da violência que se estabeleceu por ai, sem controle e quase sem combate ao processo que lhes trouxe, atingindo a ordem pública e as pessoas nos grandes centros, com ou sem policiamento. Muitas são as causas da violência, como: adolescentes desregrados e  desasistidos pelos pais; crise familiar ou reprovação escolar, desemprego e drogas; tráfico em geral com confronto entre gangs rivais e discriminação em geral, como  tantos outros. O grande problema que se arrasta desde longo tempo passado até os nossos dias e que pode gerar violência é o sócio-economico. A má distribuição de renda resulta na privação da educação e melhores condições de moradia. Todo esse círculo vicioso se origina a partir da falta de condições de uma vida digna o que faz com que as pessoas percorram caminhos ilegais e criminosos. Está claro hoje, que não é simplesmente distribuindo uma bolsa família que vá resolver o grave problema social e econômico que aflige o país, gerando violência. Entre as muitas causas, a maior é a má formação do homem nascido e criado à margem da sociedade, no submundo das favelas, vitimas de preconceitos sociais. Sem qualquer assistência; despreparado para integrar o mercado de mão de obra; dominado pelo complexo de perseguição social, joga-se na criminalidade como meio de sobrevivência. A solução do problema deve-se buscar ao nascer a criança, porque depois a solução é quase impossível.

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