Petrônio Braz (*)
Para tornar-se imortal, Zeus ao nascer pediu a Hermes que o levasse para junto do seio de Hera, quando esta dormia, e o fizesse mamar. A imortalidade, assim, depende de um ato ou de um fato.
Numa sucessão rápida de impressões sobre um número finito de pessoas, sou levado a lembrar que a imortalidade se faz presente, não pela visão do ser, mas pela lembrança de uma existência, que deixou marcas individualizadoras. São imortais os humanos que mamaram nos seios de Atena, a deusa grega da sabedoria.
Não é necessário que se tenha conhecido o ente animado pela sua existência física, bastante a leitura de suas obras, a visão do conjunto de sua arte, a análise da correção de sua existência.
Atesta Bertrand Russell que “no presente estágio da psicologia e da fisiologia, a crença na imortalidade da alma não pode reivindicar, em qualquer nível, respaldo científico; e tais argumentos, tanto quanto é possível neste assunto, apontam para a provável extinção da personalidade por ocasião da morte.”
Não é essa a imortalidade que buscamos objetivamente definir, nem sobre ela discutir. Indicamos a imoralidade dos nomes e das obras dos seres humanos, que ficam entre nós, na lembrança.
Se quiseres ser lembrado, já disseram antes: plante uma árvore, gere um filho e escreva um livro.
Ninguém ousa duvidar da imortalidade de Carlos Drummond de Andrade, Casimiro de Abreu, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Victor Hugo, José de Alencar, Alexandre Herculano, mas também podemos registrar a imortalidade de Anfrísio Lima, Antônio Hatem, Antônio Montalvão, Argelce Mota, Artur Lobo, Brasiliano Braz, Camilo Prates, Georgino Jorge de Souza, Henrique Oliva Brasil, Herculano Teixeira de Souza, Honorato Alves, Inácio Quinaud, João Antônio Pimenta (Dom), João Florisval Montalvão (Padre), Jove da Mata, Robson Rodrigues Costa, entre tantos outros.
Afirmou Alexandre Herculano que “debaixo dos pés de cada geração que passa na terra dormem as cinzas de muitas gerações que a precederam”.
Os seres dotados de racionalidade, de consciência de si, de capacidade de agir conforme fins determinados e com discernimento de valores, conhecidos como pertencentes à espécie humana, que não estiverem afeitos às lides literárias do Norte das Gerais, não deve ter notado o crescimento, em quantidade e em qualidade, da produção representativa das letras regionais nos últimos anos.
Um Mutirão Cultural da União Brasileira de Escritores-UBE reuniu dezenove mil participantes. Uma exposição de nomes, no Norte de Minas, deve ultrapassar a casa de uma centena.
Os ícones da cultura deste Sertão permanecem intocáveis e inesquecíveis. Entre eles Cyro dos Anjos, Urbino de Sousa Viana, João Vale Maurício, João Luiz Lafetá, João Chaves, Nelson Washington Vianna, Cândido Canela, Hermes Augusto de Paula, Adherbal Murta de Almeida, Darci Ribeiro, Dulce Sarmento.
Mas outros ainda presentes contribuem para o aprimoramento cultural da região, com um acervo literário de larga erudição, na poesia, no conto, no romance ou nas crônicas, sendo difícil enumerar todos.
(*) Escritor e advogado