Neumar Rodrigues
Jornalista
A palavra ignorância vem do latim (in negativo e noscere conhecer). É a parcial ou total ausência de conhecimento. Já a palavra inércia também vem do latim (in ars, sem arte, sem poder para alguma coisa, inerte. Ausência de iniciativa, incapacidade para a ação). Quando dizemos que alguém é ignorante muitas vezes queremos dizer que alguém é primitivo, irracional. Também usamos a palavra para designar pessoas que não entraram no ensino regular e cujo aprendizado restringe-se às experiências de vida.
Um dos temas mais comentados no último século e nos primeiros anos do século 21 relaciona-se com a educação. De maneira geral ninguém duvida da importância da educação, mas há dúvidas sobre qual tipo de educação se deveria repassar para nossos filhos. Nosso ensino regular privilegia a transmissão de conhecimento, exigindo dos alunos memória e assimilação.
Busca também preparar o aluno para o mercado de trabalho, novamente com informações que lhe serão repassadas a partir da experiência e conhecimento adquirido pelos professores. Em outras palavras, nossa educação formal é cognocitiva, ou seja, usa a razão, enquanto o verdadeiro processo educacional deveria privilegiar o cultivo da afetividade e da vontade.
Nosso processo educacional tradicional ensina conhecimentos e não desenvolve no aluno a capacidade de pensar e discernir. No sistema produtivista apresentado pelo capitalismo, os operários não precisam nem devem pensar. O sistema pensa por eles. O que deles se espera é que tenham aprendido adequadamente as tarefas relativas às suas funções. O modelo que atualmente mais representa esse pensamento é o chinês. Lá, o operário tem que saber desempenhar bem sua função, mostrar produtividade, trabalhar muitas horas por dia, seguir as normas e regras estabelecidas pela empresa sem questionamentos.
O problema desse tipo de educação é que ela não liberta, mas aliena. Somente podemos dizer que há uma educação se ela produz libertação. Isso o aluno consegue desenvolvendo o espírito crítico, a capacidade de discernimento,o livre pensar e criar. Gostar de poesia é um bom sinal em direção à criatividade e à independência de idéias. Somente quem pensa pode resolver seus problemas de maneira genuína, criativa. O poeta é um pensador. Sempre haverá alguém disposto a pensar por nós caso não tenhamos capacidade para fazê-lo ou renunciemos a esse direito.
Ao nosso sistema de organização do trabalho, a partir do trinômioprodução-consumo-lucro, somente interessa operários produtivistas com o mais alto nível de especialização possível dentro da função, mas que não tenham a capacidade de pensar. Sabem os donos do capital que se o operário tivesse a capacidade de pensar, provavelmente não seria operário. A educação que interessa ao capital é cognitivo-produtivista, enquanto a que interessa ao operário é afetiva, porque, por mais importante e necessário que seja o trabalho, não nascemos para trabalhar, mas trabalhamos para poder viver bem, juntamente com as pessoas que amamos. O método Paulo Freire liberta e ensina a pensar, por isso não teve vez no Brasil, uma vez que foge dos interesses do capital e dos políticos.