*Chico Mendonça
Estamos a sete dias das eleições. Logo que o sol nascer na segunda-feira, 27 de outubro, já haverá um presidente da República eleito. O novo mandatário, que tomará posse em janeiro, carregará as marcas de uma campanha pautada pela troca de ofensas e por discursos superficiais e circulares – as mesmas frases e acusações indo e vindo sem cessar. Além dos hematomas sobre o corpo e a reputação do futuro chefe do Poder Executivo, haverá sobre a mesa uma montanha de perguntas sem respostas, de propostas não anunciadas e metas não apresentadas.
O país, um pouco mais dividido entre petistas e não petistas e, portanto, registrando crescimento do número de ex-amigos separados pela paixão política, amanhecerá sem ideia do que esperar do novo governo em questões fundamentais. Na educação, por exemplo, o que será feito para melhorar a péssima qualidade do ensino no Brasil? Não se trata de discutir se teremos escolas de horário integral, mas, antes disso, o que as crianças brasileiras estarão aprendendo nas salas de aula.
Para dar maior sentido à questão, basta lembrar que na última etapa (2012) do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ficou, entre 65 países pesquisados, em 58º lugar em matemática, 55º em leitura e 59º em ciências. No teste de raciocínio rápido e problemas do dia a dia, nossos estudantes apareceram na vergonhosa 38ª posição na lista de 44 países avaliados. Gostaria, sinceramente, de saber o que Dilma e Aécio pensam sobre isso. No detalhe.
Me pego, ainda, de curiosidade em saber como poderemos avançar na área de pesquisa e tecnologia, dado que nossas universidades têm participação pífia na produção de conhecimento. Segundo novo ranking da Times Higer Education, deste ano, o Brasil não possui representantes entre as 200 melhores universidades do mundo. Só para ficar em alguns exemplos, a Turquia tem quatro, a China três e Cingapura duas. Há outros levantamentos, mas, quando aparecem, as brasileiras mais bem colocadas são sempre USP e Unicamp, apenas elas, ambas de um mesmo estado, ambas não federais. Muito pouco para a 7ª economia mundial, uma incoerência para qualquer país que pretenda ter alguma importância no cenário internacional.
Sobre um tema fundamental da agenda brasileira, a mobilidade urbana, os debates também nada acrescentam. Ainda na questão do transporte, a última pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) aponta que apenas 12% da malha brasileira é asfaltada! Em média, a baixa qualidade das estradas onera em 26% os custos dos transportes para as empresas brasileiras. Não se falou sobre isso também.
São apenas alguns exemplos, dentre outros tão ou mais importantes, para demonstrar o quão insana é esta guerra de paixões entre nomes e siglas. Brigam pelo quê mesmo? PSDB e PT, apesar de diferentes, não são antagônicos. Deram sequência, sem descontinuidade ou rompimentos, a um projeto que começou com o governo José Sarney. A gênese do Bolsa Família é o vale leite de Sarney. Se quiserem me atirar ovos, prefiram como alvo o senador eleito José Serra, que já disse isso na campanha de 2010 e tem uma calva mais reluzente que a minha. De resto, vou continuar assistindo aos debates. Depois corro para o Facebook para acompanhar a troca de desaforos entre as torcidas.