Hebert Caldeira

Jornal O Norte
Publicado em 17/04/2009 às 10:21.Atualizado em 15/11/2021 às 06:56.

Marcelo Valmor


Professor Universitário



· “Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal, e fazer tudo igual, eu do meu lado aprendendo a ser louco, um maluco total, controlando a minha maluques combinada com minha lucidez vou ficar, ficar com certeza maluco beleza”.


(Raul Seixas)



Filho de dentista e de dona de casa nasceu Hebert Caldeira. Estudou medicina, já teve acidente com motocicleta, casou duas vezes e morreu. Mas onde ele estiver com certeza não estaria nada contente com esse começo. Talvez reclamasse comigo: Porra primo põe emoção nessa merda!



Mas é engraçado estar escrevendo sobre ele, já que, não era um primo assim tão próximo. Mas depois da sua morte, passei a enxergá-lo em todos os lugares e nos rostos de todas as pessoas. Aconselharam-me a mandar celebrar missa, e, por via das dúvidas encomendei logo três. Não adiantou.



Gostava muito dele. De gênio explosivo e ao mesmo tempo doce (por que será que esses opostos estariam em poucas pessoas?), combinava curiosidade com atitude, força física com trabalho, afeto com um pouco de violência às vezes (costumava dar uns sopapos nos mais novos da família). Equilíbrio precário e difícil, mas que forjou uma das personalidades mais complexas que conheci. Pegava as coisas para resolver e não as largava pela metade.



Depois do primeiro casamento, foi se ter em outro, desta vem com Helena, que lhe deu mais filhos. Cansado da mesmice da cidade, das pessoas, e querendo curtir e aproveitar melhor a melhor fase dos nossos filhos que é a infância resolveu mudar-se para o Recanto, sítio da mãe viúva.



E foi exatamente no dia das mães e voltando do sítio que o seu carro capotou, presionando-lhe o peito e o matando sem perdão.



Foi um susto para todos nós, e mais ainda para Marcus Sapo, meu irmão, e irmão dele de fé. E foi aí que percebi o quanto que parecia com ele e não sabia. Daí essa crônica para contar, tardiamente, como me fez falta não ter convivido com ele mais um pouco, aprendido com sua impaciência pelas coisas menores, reclamando dos fracos, aprendendo que só tem uma coisa que vale a pena na vida que é viver, vivendo emocionalmente de forma plena. Até fazer compras para ele era um ato de sentir



Eu espero que essa crônica funcione melhor do que as três missas que encomendei em memória de sua alma, e que eu pare de ver em tudo e em todos o seu rosto e seu olhar.



Mas se mesmo assim não for possível, a partir do momento que comecei a escrever esse material percebi, falando sobre ele, que nos parecíamos tanto, e, ilusoriamente, via ele em tudo e todos, quando, na verdade, me via eu mesmo nele próprio.



Esse era o maior Paculdino dos Caldeiras.



Até um dia primo.

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