*Patrícia Gomes
Essa tal de hashtag irrita qualquer um. Não se conversa mais sem utilizar um jogo da velha. “Estou tão cansada! #trabalho” Por que não adiantar o raciocínio de quem lê? “Estou cansada de tanto trabalhar!” E quando um texto tem mais hashtags do que palavras? “Feliz! #amor #namoradoperfeito #almagêmea #amoraprimeiravista #feitopramim #casamento #pedido #parecesonho #siiiiiiim #noivos #Etevaldoteamo” Jesus Cristo! Não é mais fácil dizer: Etevaldo me pediu hoje em casamento. Eu disse sim e estou muito feliz, porque parece um sonho! Meu noivo é minha alma gêmea! Mas, não... O pensamento picado parece estar na moda. E tem também aqueles que ainda não entenderam direito a aplicação do símbolo moderninho. Falam assim: “Meu time ganhou! #showdebola #3X0 #massacre #pênalti #goleiroBruno #cadeia #22anos #justiça #ripelizasamúdio.” Hein??? Qual o sentido dessa avalanche de #######? E, normalmente, o sentido está extamente na hashtag. “O que eu fiz pra merecer isso? #ônibusquebrado” Quando essa mania começou, ela não entendia nada. Ficava pensando quem havia ressucitado o jogo da velha esquecido havia tanto tempo... De repente, todos os amigos dela usavam esse modelo contemporâneo de escrita e ela ainda nem sabia o que era aquilo. Custou a tomar coragem para perguntar. Tudo bem, todo mundo já sabia que ela não era extamente a versão feminina do Steve Jobs, mas a tal da hashtag já estava tão difundida entre a população jovem antenada, que ela ficou com receio de ser ridicularizada. Chamou uma amiga num canto e implorou: me explica esse negócio que vocês estão usando, por favor? Ouviu a explicação nada convincente e decidiu não entrar nessa onda. A vida seguiu sem hashtags, até que um dia ela leu uma expressão que mudou a sua opinião sobre o tal jogo da velha. No texto de um amigo constava: “Time tal perdeu! #todaschora” Aquilo ali soou tão divertido para a analfabeta digital, que ela riu alto! A partir daquele dia, passou a admitir a utilização de hashtag, com cautela, de vez em quando e apenas, exclusivamente, com ironia. Vez ou outra soltava uma hashtagzinha. Mas, até hoje ela ainda pensa por que as pessoas estão se condicionando a economizar as palavras e encurtar os sentimentos...
