Gera capa de revista - por Raphael Reys

Jornal O Norte
Publicado em 22/06/2007 às 12:19.Atualizado em 15/11/2021 às 08:07.

Raphael Reys



Era um campeão de energia. Biótipo médio, magro, quase sisudo, caucasiano. Corpo e cara do cantor Ney Matogrosso. Este, assim como ele, um leonino. Na pia batismal da igrejinha dos rincões campesinos do Brejo das Almas recebeu o nome de Geraldo Caires. Para os muitos amigos diletantes era Gera Capa de Revista. Orlando, amigo e companheiro de estrada, o chamava de Gera Paia, açulando-o, já que o mesmo fora bem de vida no início dos anos 70.



Gera, assim como o seu pai, só andava nos trinques. Chamavam-no mesmo de Gera do Brejo, como uma homenagem à querida cidade de Francisco Sá, sua origem campestre. Passou os seus mais profícuos anos de vida nos Montes Claros, onde transitava no mercado de veículos.



Captador, vendedor, gerente e proprietário de uma conhecida agência de automóveis, à qual ele mesmo chamava de Internacional. Era sua a máxima vir a Montes Claros e não visitar a Agência Internacional é a mesma coisa que ir a Roma e não beijar a mão do papa.



Carismático como pessoa e como profissional, angariou um vasto círculo de amizades e de admiradores. Dotado de bom humor e portador de um coração de ouro, aparava o cavaco de todos os amigos que o procuravam, pois não sabia dizer não. Muitos abusaram da sua bondade e do seu bolso sempre farto.



Vestia-se com esmero roupas da moda e mesmo clássicas. Sapatos de verniz ou de pelica. No inverno, usava blusões importados, com forro de pele de carneiro sobre uma camisa de seda chinesa.



Comercialmente, era uma águia. Como convinha a um bom negociante, tinha a palavra fácil e ouvido de mercador. Fora do serviço era o dono da noite. Bons restaurantes, bares, boates. Nas pistas de dança, um tremendo pé de valsa. Rolava com as damas da noite. Tinha a boca de glutão e vivia num dolce far niente. Aonde chegasse para farrear era animação na certa!



Um amigo do peito. Corajoso e destemido, defendia os amigos e companheiros de jornada. Ajudou-me a enfrentar uma situação de perigo em 1980. Aparou o cavaco na hora. Quando saía para farrear, portava dois revólveres 38, puro exibicionismo, ocasião em que eu o chamava de cintura 76.



Um guerreiro com alma espiritualizada em um coração terra-terra. Gostava de um bom vinho, de um scoth on the rocks e um coquetel Manhatan. Viveu e morreu de forma exótica. Em um acidente automobilístico sob uma ponte. Os amigos passaram dias à procura do seu corpo, cabendo a Tim Silveira, seu conterrâneo, encontrá-lo numa manilha.



Sabemos que nos mundos súperos, onde certamente se encontra, será sempre um amigo. O nosso querido e inesquecível Gera Capa de Revista!

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