Dom José Alberto Moura
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Celebramos neste Domingo após o Natal a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. O casamento de Maria já havia sido preparado. José não sabia da gravidez da noiva. Mas, desde há muito, Deus havia preparado a moça que geraria, por intervenção do Espírito Santo, o Filho de Deus nascido entre nós. José foi saber disso depois e aceitou ser o grande protetor da mãe e da criança. Foi um casamento por um ideal superior a todos. Nos casamentos humanos, quando há um ideal maior, geram-se filhos com responsabilidade para eles serem cidadãos de verdade. Quando há egoísmo, com busca de conforto acima de tudo, não se quer assumir a paternidade e a maternidade com o ideal proposto pelo Criador.
Hoje há governos e instituições convictos do desenvolvimento feito com a erradicação da pobreza, utilizando o método do controle da natalidade que evite muitos comensais do bolo do desenvolvimento. Deste modo se esquecem que a pobreza se supera, acima de tudo, com a justiça social. É evidente que a geração de filhos deve ser feita dentro de parâmetros responsáveis, mas sem o excesso de egoísmo. Este é superado na dimensão do ideal do amor e da ligação com o projeto do Criador.
O poder pagão quer eliminar o sagrado da família, instigando o relacionamento afetivo e sexual das pessoas por mero prazer. Não interessando mais, deixa-se o parceiro hetero ou homossexual, buscando-se outro. Há também a busca de filhos sem compromisso de casamento, até mesmo com inseminação artificial, burlando-se a relação humana do sexo no casamento. Mesmo quando isso é motivado por um desejo maior, quando há defeitos disfuncionais que impossibilitam o casal de ter filhos naturalmente, o caso de adoção pode vir ao encontro, com mais genuinidade, desta vontade.
O ideal da realização do plano de Deus fez com que o santo casal de Nazaré se dispusesse a uma convivência com um amor eminentemente sublinhado. Ele é estímulo para quem quer a busca da própria realização humana conseguida com a doação de um cônjuge ao outro, na mútua ajuda, para conseguirem juntos a realização de um projeto maior para ambos. Fora do projeto de Deus, o ser humano se escraviza à matéria, que é muito frágil. A promessa de amor, tendo em vista só o “enquanto durar o amor”, fragiliza a possibilidade da realização de um projeto de vida consistente. O amor conjugal é progressivo e altamente realizador, à medida em que o casal vai cada vez mais mergulhando na base da sustentação do amor em Deus.
No matrimônio, a relação dos pais e filhos é um grande desafio, principalmente devido ao fato de não haver grande preparação para o casamento e para se educarem os filhos, inclusive na fé. Por outro lado, a sociedade exerce influência muito forte para haver realização pessoal com o fechamento da pessoa na própria subjetividade. É preciso haver grande paciência e exercitação no diálogo e na criação do sadio espírito crítico. Deste modo não se engolem propostas nem sempre éticas e de cunho fortemente materialista para se saber buscar valores maiores do sentido da vida. Sem o sagrado da pessoa, da vida e da família, o ser humano se encontra num beco sem saída. A Sagrada Família de Nazaré nos alerta para a dimensão profundamente humana e cristã do amor e da convivência humana.